Por Adelson Vidal Alves

O racismo é um horror para qualquer pessoa minimamente civilizada. No entanto, houve tempo em que ele não só era aceito como defendido cientificamente. São os casos de pesquisadores como Nina Rodrigues, Oliveira Viana e Cesare Lombroso. 

Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906) foi um médico maranhense, expoente das teorias raciais no Brasil. Publicou “Os africanos no Brasil” (1932), estudo pioneiro sobre a influência da cultura negra no país. Seu dedicado trabalho tenta traçar o perfil das etnias africanas no Brasil, e analisar a influência que tiveram em várias esferas da realidade brasileira.

Nina Rodrigues não concordava com a escravidão, mas estava certo da inferioridade do negro. No citado trabalho, escreveu: “O critério cientifico da inferioridade da raça negra nada tem de comum com a revoltante exploração que dele fizeram os interesses escravistas dos norte-americanos. Para a ciência não é esta inferioridade mais do que um fenômeno de ordem perfeitamente natural, produto da marcha desigual do desenvolvimento filogenético da humanidade nas suas diversas divisões e seções”. Para Nina, os negros tinham desenvolvimento evolutivo mais lento que os brancos, mas poderiam um dia formar uma civilização. 

Em linha diferente vai Oliveira Viana (1883-1951), jurista e sociólogo brasileiro nascido em Saquarema, Rio de Janeiro. Defensor da eugenia, publicou “Raça e Assimilação” (1932), onde empenhou esforços para tentar provar a atualidade da raça como conceito biológico cientificamente comprovado. Analisou e concluiu que a divisão racial era mais ampla e complexa do que propunham as pesquisas do país.

Viana defendeu que o negro como “raça pura” jamais poderia desenvolver uma civilização. Escreveu ele: “O que o estudo da história antiga da África demonstra, pois, é que (…) os grandes centros de civilização, surgidos no interior do continente africano, não foram organizados por povos da raça negra; mas, sim, por povos estranhos, por conquistadores árabes ou berberes, que se caldearam com a primitiva população negra (…) O negro puro, portanto, não foi nunca, pelo menos dentro do campo histórico em que o conhecemos, um criador de civilizações”. 

Cesare Lombroso (1835-1909) foi outro grande pesquisador influenciado pelos estudos racializados de sua época. O psiquiatra italiano defendia que seria possível identificar traços físicos no criminoso, como o tamanho do crânio e da mandíbula. Fez um estudo detalhado sobre o uso de tatuagens e seus significados, e relacionou tatuados com a delinquência. 

Nina, Viana e Lombroso defendiam ideias hoje consideradas racistas, mas não eram monstros insensíveis. Eram aplicados estudiosos que acreditavam estar fazendo o que havia de melhor na ciência de seu tempo. Inaceitável é a persistência de suas teses nos dias atuais por alguns escritores. Caso dos americanos Charles Murray e Richard Herrnstein, que em 1994 publicaram o polêmico “A curva do sino”. No livro, defenderam que testes de QI demonstrariam a superioridade dos brancos sobre os negros, e que essa realidade seria irreversível.

Chegaram ao cúmulo de defender o fim das políticas assistenciais e educacionais aos mais pobres, pois a pobreza seria tão somente resultado da baixa inteligência de alguns grupos. Para provar suas teses utilizaram vários gráficos onde pesquisas demonstrariam que os brancos sairiam melhores que os negros nos testes de QI.

É possível que tais testes existam e apresentem melhores resultados entre os brancos frente aos negros, mas essa indicação deve avaliar critérios sociais, educacionais e até nutritivos, levando em conta que os negros ocupam os piores índices sociais, não por sua inferioridade biológica, mas por questões históricas. Além disso, é questionado o teste de QI como método definidor absoluto dos níveis de inteligência. 

A ciência não existe para atestar desejos igualitários que temos. A genética é esclarecedora quanto ao fato de genes influenciarem comportamentos. É um erro imaginar que todos temos as mesmas capacidades. Isso poderia ser verdade em relação às raças, mas não é. Nossa espécie é jovem, e o isolamento evolutivo que criaria grupos raciais não aconteceu. Sendo assim, o racismo hoje não só é uma barbaridade como uma grande besteira desprovida de apoio cientifico.

*Adelson Vidal Alves é historiador

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