Em entrevista ao O Globo, servidora da prefeitura contou que foi surpreendida com diversas postagens nas redes sociais

A funcionária pública de 28 anos, primeira pessoa diagnosticada com Covid-19 no Estado do Rio, concluiu os 15 dias de quarentena nesta terça-feira (dia 17). Em entrevista ao jornal O Globo, a moradora de Barra Mansa contou que foi liberada pelos médicos para sair de casa e foi a um restaurante com drive thru com o marido para comprar um sanduíche. Quando retornou, foi surpreendida com diversas postagens preconceituosas nas redes sociais.

“Um funcionário do restaurante avisou ao motorista que estava num carro logo atrás do meu que eu estava no restaurante. A pessoa gravou um áudio e postou nas redes sociais. A mensagem vinha com alerta de que eu, a pessoa com coronavírus, estava na rua. Eu me curei do coronavírus, mas estou sofrendo com o preconceito”, disse a mulher que, mesmo com a liberação, está evitando sair.

A funcionária da secretaria municipal de Meio Ambiente relatou na entrevista que, enquanto estava em quarentena, sofreu ataques nas redes sociais. Ela pediu para que nem o seu nome nem o seu rosto fossem divulgados, mas em Barra Mansa todos sabem que ela contraiu a doença.

“Como é uma cidade pequena, todos se conhecem. Logo após o meu diagnóstico, os comentários nas redes sociais eram muito ruins. Alguns chegaram a dizer que eu deveria ter morrido. Me chamaram de irresponsável por eu ter trazido a doença. Entendo a preocupação das pessoas, mas não foi imprudência minha”, frisou.

A servidora e o marido, um empresário da cidade, foram para a Europa no dia 10 de fevereiro. No roteiro inicial, a região da Lombardia, na Itália, que foi o epicentro da doença no país. “Quando cheguei, não havia qualquer alerta sobre coronavírus e não sabíamos de casos da doença. Percorremos várias cidades, entre elas, Milão. No dia 16 de fevereiro, fomos de carro para a Alemanha. No dia seguinte, seguiríamos para Viana do Castelo, em Portugal, mas perdemos o voo. Tivemos que seguir de carro”, contou.

Na entrevista ao Globo, a mulher explicou que a pressa do casal tinha um motivo: o casamento dos dois estava marcado para o dia 18, em Viana do Castelo, local romântico escolhido para a união. Ao chegar, ela começou a se sentir mal. Sintomas de uma sinusite, mas sem febre, e cansaço.

“Já tive sinusite duas vezes na vida. Percebi que eram os mesmos sintomas. Dor e peso na cabeça, cansaço e o rosto doendo. Como estava muito frio, e a viagem foi desgastante, achei que era um resfriado comum”, descreveu. “Achei exagero, mas agora sei que era necessário”, completou.

O casal recém-casado foi a um hospital em Portugal, onde foi receitado antiinflamatório. Após ser medicada, ela melhorou. Houve a cerimônia de casamento, três dias de lua-de-mel em Portugal e depois retornaram para a Itália. “Voltamos para Milão. Já havia casos da doença, e passaram a ser mais rigorosos. Passamos por duas triagens e, apesar dos relatos, não enfrentamos problemas”, lembrou.

Os moradores de Barra Mansa retornaram ao Brasil no dia 23 de fevereiro. A funcionária pública da prefeitura voltou à repartição e trabalhou normalmente durante três dias. O cansaço e uma dor nas costas, no entanto, persistiam. Foi aconselhada a procurar um pneumologista. Ela foi atendida na Santa Casa de Misericórdia, no dia 1º de março, onde foi submetida a exames de imagem dos seios da face e do pulmão. Relatou o roteiro da viagem à Europa.

“No mesmo momento, os médicos e enfermeiros colocaram máscaras e aventais. Todos os que precisavam ter contato comigo, usaram equipamentos de proteção. Aquilo me assustou um pouco. Achei exagero, mas agora entendo que era necessário”, disse a mulher. Conforme a Folha do Aço informou com exclusividade na edição 452, todas as pessoas que tiveram contato com a servidora foram monitorados e fizeram o teste de diagnóstico. Ninguém foi infectado.

“Mesmo com medo do preconceito, resolvi falar para deixar as pessoas mais tranquilas. Temos que cuidar para impedir a infecção daqueles que correm mais riscos, como os idosos, mas a doença nem sempre é fatal”, concluiu.

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