O medicamento hidroxicloroquina -utilizado para prevenção e tratamento da malária, artrite e lúpus – tem preocupado a comunidade médica em relação à automedicação para o tratamento do Covid-19. Além das discussões e pesquisas ainda inconclusivas sobre a eficácia da hidroxicloroquina ou cloroquina, médicos de todo o mundo têm exposto uma apreensão especial quanto ao uso indiscriminado da substância.

Segundo o pneumologista Gilmar Alves Zonzin, ex-presidente da Sociedade de Pneumologia e Tisiologia do Estado do Rio de Janeiro (Sopterj) e chefe do Serviço de Pneumologia do Hospital Santa Maria, a maior preocupação dos especialistas em todo está associada aos danos, que a automedicação pode causar à saúde, pelos potenciais efeitos colaterais. “Em nenhuma hipótese, pessoas assintomáticas ou que apresentam sintomas leves, e sem riscos de progressão do Covid-19, devem fazer uso desta medicação com os dados que dispomos nesse momento. Menos ainda como profilaxia ou sem indicação médica. Além da falta de comprovações que endossem a eficácia da cloroquina, não podemos esquecer que ela não é isenta de possíveis efeitos indesejáveis”, alerta o médico.

O pneumologista destaca que, no momento, as principais medidas de prevenção são comprovadamente as medidas de higiene, pessoal e dos ambientes, aliadas ao isolamento social. “Um receio pessoal é o de que, ao se acreditar numa efetividade quase miraculosa de um medicamento, as pessoas passem a se descuidar. A consequência disso pode ser significativamente perigosa, uma vez que teremos que arcar com os riscos eminentes de potencializar o nível de descontrole da situação”, destaca Zonzin.

Pacientes críticos e graves

No Brasil, o Ministério da Saúde recomenda que o uso de hidroxicloroquina ou cloroquina seja apenas para pacientes diagnosticados e com quadro grave da doença. Na semana passada,
o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta afirmou que não mudará o protocolo antes de ter as comprovações científicas sobre a segurança e a eficácia da droga para pacientes de casos brandos.

Na ocasião, o ex-ministro informou que 33% dos pacientes que fizeram uso do medicamento precisaram suspendê-lo. Para ele, o médico que interpretar que possa ser válido receitar o medicamento em casos mais leves, deve assumir o risco e as eventuais responsabilidades.

Na avaliação do pneumologista Gilmar Zonzin, além da utilização do
medicamento em pacientes graves com Covid-19, o uso da hidroxicloroquina também pode ser cogitado quando a condição clínica do paciente apresenta elementos especialmente delicados. São situações também complexas, onde existe a progressão desfavorável da doença ou riscos aumentados devido a presença de comorbidades,
por exemplo. “É uma situação de guerra, emergencial na qual, de fato, temos que acelerar os processos decisórios. Estarmos atentos às informações que vão revelando novas percepções e gerando novas
dinâmicas e mudanças de pontos de vista”, avalia.

De acordo com Zonzin, mesmo nos casos graves, existe certo consenso de que a tomada de decisão das equipes médicas, sobre a utilização do medicamento, deva ser compartilhada com o paciente e com a família.

Efeitos colaterais

A utilização indiscriminada da hidroxicloroquina pode elevar o risco de
quadros associados à toxicidade do medicamento, além de provocar o desabastecimento do remédio nas drogarias e farmácias. Isso pode prejudicar o tratamento de pacientes que usam a cloroquina contra outras doenças.

Até o momento, sabe-se que o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina tem o potencial de causar efeitos colaterais na saúde dos olhos, rins e do coração. A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que o uso da cloroquina combinado com o antibiótico
azitromicina é uma das quatro combinações de medicamentos que
estão em fase de testes em 74 países. A organização acrescentou ainda que “até agora, nenhum produto farmacêutico se mostrou comprovadamente seguro e eficaz para tratar a Covid-19”.

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