A cada dois anos, basta o período eleitoral aproximar-se para uma série de promessas de campanha serem propagadas aos quatro cantos por candidatos ávidos por votos dos eleitores. Com o advento das redes sociais, as promessas ganharam mais visibilidade, mas podem provocar o efeito bumerangue. Ou seja, garante voto nas urnas, mas num futuro não tão distante as publicações com as promessas transformam-se em prova a ser utilizada contra o político, caso o compromisso não saia do papel.

Tal situação, mais uma vez, acontece em Volta Redonda. Em novembro do ano passado, faltando 10 dias para o primeiro turno das eleições municipais, a assessoria do então candidato Neto (DEM) publicou nas redes sociais que acabaria com o “instrumento de injustiça” que o modelo de Estacionamento Rotativo implementado por seu adversário Samuca Silva (PSC) transformou-se para os motoristas da cidade. “O Estacionamento Rotativo é algo que pode ser muito útil, mas infelizmente nessa versão implantada pela atual gestão [na época, no governo Samuca Silva] se tornou um instrumento de injustiça. Mais um instrumento de injustiça! Não tenham dúvidas de que vamos rever isso e colocar o melhor modelo para funcionar. Melhor e mais justo”, dizia o texto.

Bem-sucedido nas urnas, Neto assumiu o Palácio 17 de Julho e está prestes a completar seu quinto mês na principal cadeira do Poder Executivo do município. A promessa de campanha, até o momento, não saiu do papel, e o modelo adotado pela gestão anterior, o VR Parking, segue em prática. E é justamente aí que entra em ação o efeito bumerangue.

Isso porque, além de continuar operando nos centros comerciais e em ruas residenciais, a empresa que opera o sistema aumentou seu faturamento em 145%. No primeiro quadrimestre de 2021, o valor arrecadado foi de R$ 1.394.715,08. Enquanto no mesmo período de 2020, o valor apurado foi de R$ 567,473,01. Os números constam em demonstrativo publicado no Portal Transparência da Prefeitura.

Formados pelas empresas Areatec, com sede em São Paulo, com expertise no desenvolvimento de software e pela Sinalvida, de Pernambuco, que conta com vasta experiência em gestão de rotativos, o VR Parking entrega o consórcio que venceu a licitação para oferecer o serviço. O modelo começou a ser implementado na Cidade do Aço em janeiro de 2020, com a premissa de melhorar a rotatividade das vagas nas vias públicas.

De acordo com a empresa, na época da criação, foram gerados 90 empregos diretos. Quem estaciona não precisa de moedas e pode realizar o pagamento da tarifa de uso de forma prática, com o aplicativo Digipare, que pode ser baixado em qualquer celular. A nova tecnologia colocou Volta Redonda entre as cidades que investem em soluções inteligentes para melhorar a fluidez do trânsito. Além disso, tem ainda a opção de pagar com os monitores e também adquirir em pontos de vendas.          

Na campanha, Neto chegou a afirmar que poderia rescindir o contrato com a empresa. Em entrevista a um programa de rádio, logo que assumiu o mandato, voltou a garantir que havia motivos para encerrar o contrato com o VR Parking. “Pelo valor que é cobrado hoje, acho que esse faturamento tem alguma coisa errada. Sem um diálogo não vamos chegar a lugar nenhum. Já temos motivos até para rescindir o contrato. Tem diversos itens que não foram cumpridos”, disse na oportunidade.

Na mesma entrevista, o prefeito fez nova promessa para a população de Volta Redonda e garantiu que o estacionamento teria redução no valor da tarifa e da multa. O discurso era que o valor da multa, hoje em R$ 25,00, passaria para R$ 12,50. O valor da tarifa da hora, por exemplo, em área azul, de R$ 2,50 diminuiria e que o anúncio dos novos valores seria feito até o final de janeiro. Além disso, Neto também garantiu que a empresa instalaria câmeras de segurança na cidade.

Período suspenso

No ano passado, assim que as primeiras medidas de restrição foram anunciadas para conter o avanço da Covid-19, o então prefeito Samuca Silva publicou decreto suspendendo temporariamente a cobrança do VR Parking. A medida aconteceu entre o final de abril e o mês de maio.

Com a segunda onda da pandemia, já com Neto no governo, a prefeitura de Volta Redonda adotou postura semelhante, mantendo a cobrança. No “superferiado” de nove dias, criado em março pelo governo estadual para reduzir a circulação de pessoas e a transmissão do vírus, a prefeitura de Volta Redonda determinou, por meio de decreto, que o sistema de Estacionamento Rotativo teria funcionamento regular.

Valores

Segundo a lei que instituiu o modelo de estacionamento rotativo, quanto a destinação dos valores arrecadados, 35,3% do total será repassado pela concessionária às seguintes instituições: 

a) 5% ao Fundo Municipal para a Infância e Adolescência (FINAD), entidade sem fim lucrativo;
b) 5% ao Fundo Municipal dos Direitos do Idoso de Volta Redonda, entidade sem fim lucrativo;
c) 80% para a Empresa de Processamento de Dados (EPD/VR);
d) 5% para a Secretaria Municipal de Transporte e Mobilidade Urbana;
e) 5% para a Guarda Municipal (GMVR).

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.