Os cerca de sete mil moradores e comerciantes do bairro São Luiz seguem convivendo com os transtornos provocados pela obra de substituição do asfalto. Iniciado em junho por uma empresa contratada pela Prefeitura, o serviço tinha previsão inicial de conclusão no prazo de 45 dias, o que até o momento não aconteceu.
O presidente da Associação de Moradores, Leandro Pereira, classifica a situação da Avenida Francisco Torres como caótica. “O descaso está muito grande. A Prefeitura só faz a obra quando a gente se exaure em reclamar. A gente chega em um limite quase que insuportável”, afirma.
No final do mês de agosto, a Folha do Aço registrou a insatisfação dos moradores e comerciantes com a demora na conclusão do serviço. E provando que planejamento e diálogo passam distante dos gabinetes do Palácio 17 de Julho, o governo justificou que os trabalhos precisaram ser interrompidos, por conta de uma obra de implantação de nova tubulação de empresa de gás, provocando com isso o atraso no andamento da execução.
Poucas semanas após a publicação, a SMI reiniciou o serviço de fresagem (preparação do solo) e informou que os funcionários da pasta começaram a aplicar o novo asfalto na Avenida Francisco Torres, no trecho da subida do bairro Candelária até a entrada do São Sebastião. “Eles asfaltaram parte da via e, onde foi feito o serviço, já está tudo danificado. Além disso, o outro trecho continua com a poeira, que é insuportável”, relata Leandro Pereira.
O líder da comunidade acrescenta que há duas semanas não vê a equipe trabalhando no local. “Precisamos de providências”, insiste.
Sem retorno
Representantes da Associação de Moradores do São Luiz alegam que constantemente tentam contato com a Prefeitura para obter informações sobre novos prazos para o término da empreitada. Até o momento, porém, seguem sem resposta.
“Além dos problemas da má condição dos serviços, estamos enfrentando também a falta de sinalização. Uma avenida de grande movimento e com trecho sem sinalização de estacionamento, sem sinalização para pedestre e a prefeitura totalmente omissa em relação a isso tudo. A secretária de Obras, Poliana Gama, não responde mais a gente, simplesmente nos ignora”, revela.
Em 17 de agosto, uma reunião entre a secretaria de Obras, moradores e comerciantes do São Luiz estabeleceu alguns acordos, visando minimizar os transtornos até a conclusão dos serviços. Dentre os pontos, ficou decidido que a SMI deixaria um caminhão pipa à disposição, para passar o maior número de vezes em toda a extensão da Avenida Francisco Torres, desde o trevo até o campo.
Também ficou estipulada a lavagem das ruas e calçadas até o início das noites, a disponibilidade do caminhão-pipa nos finais de semana e a sinalização temporária em toda extensão da obra. Segundo Leandro Pereira, nenhum dos compromissos firmados foi cumprido. “O atendimento foi totalmente parcial. Só jogavam água no dia que a gente atormentava. Final de semana, então, tudo ficava na poeira”, recorda.
Comerciante no bairro há mais de 20 anos, Marcello Callado também enumera os problemas enfrentados na principal avenida da região. “É poeira que não acaba mais, meu salão de beleza precisa ser limpo de três a quatro vezes por dia e se ficar mais de três horas sem limpar, dá até para escrever no chão de tanta poeira. Recebo clientes de diversos bairros, até de outras cidades, e já perdi serviços devido às dificuldades para estacionar”, lamenta.
O comerciante lembra ainda que a promessa de conclusão da obra era para final de agosto. “Já estamos chegando a novembro e nada foi resolvido. Na semana das Eleições, o prefeito esteve aqui pedindo votos para o irmão, mas, quando os comerciantes tentaram falar com ele, ele virou a cara. Se continuar fazendo desse jeito não vai ter voto nenhum em 2024. Uma vergonha”, dispara.
Marcello afirma que, em 20 anos de comércio, nunca viu tamanho descaso no bairro. “Muita poeira, muito buraco, carros quebrados, enfim, um transtorno bem grave e sério. O São Luiz tem um comércio grande, extremamente ativo, com salões, lojas, academias e está essa vergonha”, pontua.
Proprietária de duas lojas no bairro, Ana Angélica cita a falta de planejamento da Prefeitura e demonstra preocupação com o movimento no comércio para as vendas de fim de ano. “São justificativas que não convencem à população. Fizeram o recapeamento de uma parte da avenida, bem precário por sinal, pois já estão aparecendo buracos. E outra parte continua sem. Tudo isso prejudica o comércio com a poeira nas mercadorias e, também, a nossa saúde. Sem contar que as pessoas estão evitando transitar por conta da poeira, diminuindo o nosso movimento”, conta. “Mando mensagem para o prefeito, secretaria de Obras e nada. Hoje mesmo fiz algumas interações no programa onde o prefeito se apresentava e sequer tocaram no assunto. Estamos abandonados”.
Com uma população de aproximadamente sete mil pessoas e cerca de 45 estabelecimentos comerciais, a região do São Luiz é uma das principais portas de entrada ao município de Volta Redonda. Pela BR-393 (Rodovia Lúcio Meira), o bairro é cortado diariamente por caminhões e carretas em direção a parte central da cidade, sendo também caminho para motoristas que seguem em direção ao interior de Minas Gerais, como Santa Rita de Jacutinga e Andrelândia.
O São Luís também é acesso para a Candelária, São Sebastião, Nova São Luiz, São Luiz da Barra e Dom Bosco. “Ou seja, podemos concluir que o número de pessoas impactadas pelas obras é bem superior ao número estimado de habitantes no bairro”, ressalta o presidente da Associação.
Diferente do que ocorreu há dois meses, quando a reportagem questionou o motivo do atraso na obra, desta vez a Prefeitura deu a sua versão. Em nota, foi informado que equipes da secretaria de Infraestrutura seguem trabalhando no recapeamento asfáltico no bairro.
“Neste momento, estão sendo executadas trocas de trechos de solo”, afirmou o Executivo municipal, por meio da secretaria de Comunicação (Secom). Ainda segundo a nota da Secom, “haverá ainda outras etapas desta obra, como, por exemplo, o calçamento da via. O asfaltamento já chegou a uma parte do bairro e segue avançando, principalmente em dias de tempo firme, sem chuvas, que podem afetar o andamento dos trabalhos”.
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