No último dia 25, uma menina de apenas dois anos teve as duas pernas cortadas por uma linha chilena, enquanto brincava na porta de casa, em Santa Cruz, bairro da Zona Oeste do Rio. A criança foi socorrida às pressas para uma Unidade de Pronto Atendimento, levou 15 pontos em uma perna, sete pontos na outra e, por pouco, não sofreu uma amputação. Cinco dias antes, em São Paulo, um motociclista foi atingido por uma linha com cerol quando passava por uma avenida na Zona Leste. Neste caso, a vítima foi socorrida pelo Helicóptero Águia da Polícia Militar e levada em estado grave para o Hospital das Clínicas.
No começo de junho, em Niterói, região metropolitana do Rio, um menino de cinco anos se feriu quando andava de bicicleta. A criança pedalava tranquilamente em uma área de lazer quando uma linha chilena cortou seu pescoço. Levado para o Hospital Azevedo Lima, o garoto passou por cirurgia, recebeu 58 pontos no local e agora se recupera em casa.
Proibidas por lei, as linhas de cerol (ou linhas chilenas) são fios de pipa com alto poder cortante. No céu ensolarado, a brincadeira aparentemente inofensiva de soltar pipas pode se transformar em uma armadilha mortal. Com sua composição reforçada por materiais como vidro moído e cola, esse produto letal tem machucado pessoas, ceifado vidas e deixado um rastro de tragédias, mesmo com a proibição. Diante dos perigos iminentes, a sociedade clama por ações mais enérgicas das autoridades para combater sua comercialização e conscientizar sobre os riscos envolvidos.
O delegado de Volta Redonda, Luiz Jorge Rodriguez, explica que o mero ato de deter a linha chilena pode se enquadrar no crime de receptação, conforme o artigo 180 do Código Penal. “Se além de deter do produto ilegal, o indivíduo ainda fizer uso, vai responder pelo crime do artigo 132, que é expor a vida ou a saúde de terceiros a perigo”, afirma o titular da 93ª DP. “Portanto, fica a dica: não use linha chilena. É perigoso e você ainda pode responder criminalmente se for pego em flagrante”, alerta.
Fiscalização e combate à comercialização
O aumento no número de acidentes e tragédias envolvendo essa linha cortante, conhecida por sua extrema resistência e capacidade de causar cortes profundos, tem levado autoridades e órgãos de segurança a intensificar esforços na fiscalização e repressão desse comércio ilegal. Diante dos perigos que rondam essa prática irresponsável e principalmente com a chegada do período de férias escolares, medidas mais rigorosas devem ser implementadas visando proteger a sociedade.
A Folha do Aço tentou contato com o Procon de Volta Redonda, por meio da secretaria de Comunicação da prefeitura, para saber se o órgão tem realizado ações de fiscalização regularmente para combater a venda ilegal de linha chilena. Também questionou sobre quais as penalidades para os estabelecimentos que são pegos vendendo o produto e como o cidadão pode denunciar um comércio que esteja agindo na ilegalidade. Até o fechamento desta edição, não houve retorno.
No entanto, é sabido que a lei determina que o infrator, em se tratando de pessoa jurídica, pode sofrer sanções que vão desde ao pagamento de multa, sendo o valor acrescido em caso de reincidência, até o fechamento do estabelecimento. No caso da comercialização da linha chilena em feiras livres ou camelódromo, o proprietário pode ter sua permissão de funcionamento cassada.
Espaço adequado
Em meio às brisas, é comum avistarmos crianças e até mesmo adultos soltando pipas pelos céus, trazendo uma atmosfera de diversão e alegria. No entanto, por trás dessa prática, esconde-se outra preocupação crescente, além do uso de linhas chilenas: a necessidade de se soltar pipas em locais adequados. As autoridades alertam que, em muitas ocasiões, a falta de cuidado pode resultar em graves acidentes, inclusive atropelamentos, ressaltando a importância de conscientizar a população sobre os riscos e a importância de escolher lugares apropriados para essa atividade tão popular.
Desde maio deste ano, os pipeiros de Volta Redonda contam com lugar exclusivo para praticarem a atividade de lazer com segurança. O Pipódromo Cidclei Damasceno Gonzaga, inaugurado na Rodovia dos Metalúrgicos, ao lado da Casa de Portugal (antigo aterro sanitário), atende a um desejo antigo da Associação de Pipeiros de Volta Redonda.
Funcionando todos os dias das 7h às 18h, o local foi adequado com recursos próprios do município, acatando as proposições dos vereadores Fábio Buchecha (PSC) e Rodrigo Nós do Povo (PL). O local é aberto, sem fiação elétrica por perto, e veda o uso de cerol, linha chilena e afins.
Foto: arquivo/Divulgação PMVR