O casamento é a união de duas pessoas, um momento celebrado com amor e promessas de uma vida juntos. Mas quando essa união se desfaz, o divórcio se torna um caminho muitas vezes doloroso e complexo, marcado por desafios emocionais e legais. No Brasil, os números de divórcios em 2022, divulgados no mês passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam não apenas estatísticas, mas histórias de sonhos que se desfazem, de vidas que se transformam e de recomeços que se iniciam. Foram 420.039 casamentos desfeitos só naquele ano, representando um aumento de 8,6% em relação a 2021.
Entre os municípios da região, Volta Redonda, Barra Mansa e Resende despontam com os maiores índices de divórcios concedidos em primeira instância em 2022, com 245, 173 e 194 casos, respectivamente. Esses números revelam uma realidade cada vez mais comum nas famílias brasileiras: a liquidez das relações, conforme explica a advogada especialista em Direito de Família e Sucessões, Danielle Pinheiro.
“O que percebo em meu escritório é que as pessoas já se casam com o pensamento de que ‘se não der certo, separa’. Não há a paciência de construir relações sólidas, com laços profundos”, destaca Danielle, acrescentando que, além da liquidez das relações, os maiores motivos dos divórcios são casos de infidelidade (que lideram a lista) e brigas financeiras.
O estudo do IBGE também aponta para um aumento significativo nos divórcios entre pessoas idosas. Em Resende, por exemplo, 24 pessoas acima de 60 anos optaram pela separação, enquanto em Volta Redonda esse número foi de 23 pessoas. Para Danielle Pinheiro, essa mudança está associada à informação e à independência das mulheres, que não se veem mais presas em casamentos infelizes.
“Agora, as pessoas não têm mais vergonha do divórcio. Elas percebem que ainda há muita vida para viver”, destaca a advogada. Essa transformação não se restringe aos mais velhos; os divórcios entre jovens também surpreendem na região, com Volta Redonda liderando com 69 casos. Nestes cenários, a falta de comunicação, desrespeito, infidelidade e questões financeiras surgem como principais motivadores.
Dos 173 divórcios protocolados em Barra Mansa em 2022, 19 foram ‘não consensuais’. Em Volta Redonda, 17 dos 245 divórcios também se firmaram sem acordo. Já em Resende, o número de divórcios não consensuais chegou a 79.
Para Danielle, “o divórcio consensual é uma opção inteligente. Ele é mais rápido e mais barato. O litigioso, por sua vez, é muito mais demorado, dispendioso e desgastante emocionalmente. Além disso, o que percebo no escritório é que, quanto maior o patrimônio, a propensão de ter o litígio é muito grande, devido às brigas por divisões de bens, o que traz prejuízo para ambas as partes”.
Diante desses números, a advogada avalia que o processo de divórcio no Brasil ainda é moroso e precisa de melhorias. Por isso, ela enfatiza a importância da separação consensual.
“Quando há um divórcio consensual, eu consigo colocar todos os aspectos em um processo só, o que também ajuda o judiciário, que está abarrotado. O processo de divórcio no judiciário ainda é muito moroso. Demora-se muito, tem pouco serventuário, precisa melhorar bastante”, pontua Danielle. “Em contrapartida, há um movimento com várias iniciativas por um divórcio colaborativo, o que certamente dará celeridade aos processos. Incentivar o divórcio consensual é importante, principalmente ao ter filho envolvido para ser mais simples e menos traumático”.
Os dados do IBGE refletem mudanças profundas na sociedade brasileira, indicando a necessidade de adaptação do direito de família para garantir uma solução justa e rápida para todos os envolvidos. Essas estatísticas não apenas evidenciam a frequência crescente de divórcios, mas também revelam uma transformação nas dinâmicas familiares e nos valores sociais.
Desafios emocionais pós-pandemia aumentam taxa de divórcios, afirma especialista
Para a psicóloga Lúcia Azevedo, o ano de 2022, ainda marcado pela pandemia de Covid-19, trouxe uma série de desafios emocionais para os casais, contribuindo para o aumento dos divórcios. Segundo a profissional, o contexto de isolamento social e incertezas gerou um aumento nas tensões familiares, muitas vezes intensificando problemas pré-existentes.
“A convivência intensa e prolongada, sem as habituais pausas e espaços individuais, pode ter levado a um maior conflito e desgaste nas relações. Além disso, a preocupação com a saúde, o medo do contágio e as dificuldades financeiras podem ter sobrecarregado os casais, impactando sua capacidade de lidar com as dificuldades”, analisa Lúcia.
Ainda de acordo com a psicóloga, a pandemia também trouxe à tona questões latentes nos relacionamentos, como a falta de comunicação eficaz, a dificuldade em lidar com as emoções e expectativas não atendidas. “Muitos casais enfrentaram crises de identidade e propósito, o que pode ter levado a uma reavaliação dos valores e prioridades individuais. Contudo, é importante destacar que o aumento dos divórcios não deve ser encarado como um fracasso, mas sim como um processo de transformação e crescimento pessoal. A terapia pode ser uma ferramenta valiosa para auxiliar casais, pessoas solteiras e divorciadas a enfrentar desafios, fortalecendo a comunicação e promovendo o entendimento mútuo”, concluiu.