A Secretaria de Transporte e Mobilidade Urbana (STMU) de Volta Redonda gerou polêmica ao exigir que pais de crianças autistas apresentem um laudo especificando o grau do transtorno para obter a gratuidade nas vagas de estacionamento preferenciais. A medida tem gerado indignação entre as famílias, sendo considerada ilegal por especialistas, pois contraria legislações federais que garantem o direito a essas vagas, independentemente do grau de autismo.

O vereador Renan Cury (PP), integrante da base governista de Neto (PP), criticou a postura da STMU e a interpretação equivocada de uma resolução do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), de 2022, pelo secretário da pasta, Paulo Barenco. “É revoltante ver a forma como as pessoas com transtorno do espectro autista estão sendo tratadas. Seus direitos estão sendo desrespeitados”, afirmou o parlamentar, ressaltando que famílias já enfrentam desafios diários.

Uma mãe de uma criança de 3 anos com autismo nível 2, que procurou o vereador, contou sua experiência frustrante. Apesar de ter laudo médico, carteira do Detran, RG com o símbolo do autismo e o Benefício de Prestação Continuada (BPC), ela não conseguiu a liberação da placa de estacionamento. A exigência do grau do transtorno foi vista como um obstáculo desnecessário.

Além disso, o vereador relatou que pessoas com autismo de nível 1, que já possuíam o documento, estão encontrando dificuldades para renovar a liberação da vaga. A situação persiste, mesmo após intervenções de autoridades como o vereador licenciado e secretário municipal da Pessoa com Deficiência, Washington Uchoa, e advogados.

Renan Cury também criticou a falta de ações da STMU em outras áreas da cidade, como a má conservação das vagas de estacionamento em locais destinados a idosos e pessoas com deficiência. “O secretário deveria se dedicar mais à infraestrutura da cidade, incluindo a correção da pintura dessas vagas, que está longe de ser feita corretamente”, afirmou.

Repercussão

Nas redes sociais, a medida gerou grande repercussão. Muitos internautas lembraram que a Lei nº 10.098/2000, que regulamenta a reserva de vagas para pessoas com deficiência, não faz distinção entre os graus de autismo. A Lei Berenice Piana e a Lei nº 12.764/2012, que garantem direitos às pessoas com autismo, reforçam que a comprovação do grau do transtorno não é exigida para garantir o direito à vaga preferencial.

“Independente do grau, o direito à vaga é garantido por lei. O secretário deveria estudar mais sobre a legislação e se colocar no lugar das famílias”, comentou um internauta. Outros ressaltaram que a exigência é discriminatória e um retrocesso para a inclusão das pessoas autistas, que já enfrentam dificuldades cotidianas.

O caso ganhou tamanha proporção que, segundo o vereador Renan Cury, será levado ao prefeito Neto, com a esperança de que ele intervenha para garantir os direitos das pessoas com autismo em Volta Redonda.

Entenda os direitos

dos autistas

No Brasil, a discriminação contra pessoas com deficiência, incluindo os autistas, é considerada crime pela Lei nº 7.853/1989 e pela Lei Brasileira de Inclusão (LBI). A advogada e escritora Leslie Vieira explica que práticas discriminatórias, como a negativa de direitos, podem resultar em infrações legais, desde sanções administrativas até crimes contra os direitos humanos.

“Recusar o direito a vagas especiais em estacionamentos e transportes, entre outras exclusões, é uma violação dos direitos humanos e passível de penalidades, como multas, sanções administrativas e até detenção, dependendo da gravidade do caso”, afirma a especialista.

A LBI exige que todos os estabelecimentos – públicos ou privados – garantam o acesso adequado às pessoas com deficiência, incluindo os autistas, por meio de políticas de acessibilidade e treinamento de funcionários. Em caso de descumprimento, as vítimas podem buscar reparação por danos materiais e morais.

A advogada também destaca que, embora o processo de obtenção do cartão de estacionamento possa variar de acordo com o município, o laudo médico que ateste o diagnóstico de autismo é necessário. “O direito de usar vagas especiais em estacionamentos públicos e privados é fundamental para garantir a mobilidade e segurança de pessoas com autismo, que podem ter dificuldades de locomoção ou sensibilidade sensorial”, conclui.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.