Volta Redonda contabilizou 355 atendimentos antirrábicos humanos de janeiro a julho de 2025, conforme dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde. A maioria foi causada por cães (254), seguida por gatos (84). Também houve registros envolvendo outros animais: cinco agressões por primatas, três por morcegos e nove por outros, como suínos, equinos e até vespas, que, embora não transmitam raiva, são incluídas nas notificações de ataques.
No ano passado, a cidade registrou 1.154 notificações, sendo 887 por cães e 224 por gatos. A queda proporcional pode refletir ações de conscientização e campanhas de vacinação. No entanto, o número ainda é considerado expressivo, sobretudo por se tratar de uma doença com letalidade de 100% após o início dos sintomas, segundo a secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ).
Felizmente, a pasta informou que não há registro de casos de raiva humana no estado em 2024 e 2025. O último ocorreu em 2020, em Angra dos Reis, quando um morcego transmitiu a doença a uma pessoa. Atualmente, os municípios com mais notificações de atendimentos antirrábicos são: Rio de Janeiro, São Gonçalo, Niterói, Campos, São João de Meriti, Petrópolis, Rio das Ostras, Duque de Caxias, Maricá, Cabo Frio, Itaboraí e Nova Iguaçu. As informações são do Sinan e do Monitora RJ, com dados atualizados até 29 de julho de 2025.
Em relação a Volta Redonda, dos atendimentos realizados neste ano, 143 pessoas receberam apenas a vacina antirrábica; 16 precisaram da combinação com o soro, recomendada para casos de maior risco. Outras 91 foram orientadas a observar o animal, com ou sem a aplicação da vacina. Houve ainda seis casos de vacinação pré-exposição, geralmente indicada para profissionais como veterinários, e nove situações em que o tratamento foi dispensado.
Quanto ao estado dos animais após os ataques, 129 foram considerados negativos para raiva, quatro morreram ou foram sacrificados e, em 222 casos, não houve informação sobre o desfecho. A falta de dados reforça a importância do acompanhamento pós-agressão, fundamental para definir a conduta médica adequada e evitar tratamentos desnecessários ou insuficientes.
A vacina antirrábica humana e os soros são distribuídos pelo Ministério da Saúde aos estados e, posteriormente, aos municípios. Segundo a SES-RJ, o quantitativo tem atendido às demandas. Os polos regionais de soroterapia são abastecidos conforme a necessidade. Em Volta Redonda, o polo funciona na Rua Governador Luiz Monteiro Portela, nº 298, no bairro Aterrado, com atendimento de segunda a sexta-feira.
O Ministério da Saúde reforça que a principal forma de prevenção é a vacinação anual de cães e gatos. A Campanha Anual de Vacinação Antirrábica já tem data marcada: o “Dia D” será em 27 de setembro, em toda a rede estadual, em parceria com os municípios.
Veterinária orienta sobre riscos e prevenção
À Folha do Aço, a médica-veterinária Dayana Santos explicou o que caracteriza um atendimento antirrábico, em quais situações ele é indicado e quais cuidados devem ser tomados por quem sofre agressões de animais, sejam eles domésticos ou de rua. A especialista também alertou para os sinais da raiva em cães e gatos e reforçou a importância da vacinação como principal forma de prevenção contra a doença, que é 100% letal após o início dos sintomas.
Folha do Aço: O que caracteriza um atendimento antirrábico e em quais situações ele é recomendado?
Dayana Santos – O atendimento antirrábico é voltado a pessoas que tiveram contato com animais potencialmente transmissores da raiva, principalmente por meio de mordidas, arranhões ou lambedura de mucosas ou feridas abertas. Esse atendimento é realizado nas unidades de saúde e tem como objetivo prevenir a infecção pelo vírus da raiva, que é fatal na maioria dos casos após o início dos sintomas.
Ele é recomendado sempre que houver: mordidas ou arranhões de cães, gatos ou outros mamíferos, mesmo que o animal seja doméstico; contato com saliva de animal suspeito em mucosas ou feridas; situações em que não se conhece o estado vacinal do animal; casos envolvendo animais de rua, agressivos ou que desapareceram após o contato.
A conduta pode incluir a limpeza imediata do ferimento, observação do animal por 10 dias, administração da vacina antirrábica humana e, em alguns casos, aplicação do soro antirrábico.
Qual conduta deve ser adotada por quem for mordido por um animal, seja ele doméstico ou de rua?
A primeira orientação é lavar o ferimento imediatamente com água corrente e sabão por pelo menos 15 minutos, já que essa medida simples pode reduzir consideravelmente o risco de infecção pelo vírus da raiva.
Depois disso, a pessoa deve: procurar uma unidade de saúde o quanto antes para avaliação do caso; informar detalhadamente sobre o animal: se é conhecido, se tem dono, se foi vacinado e se pode ser observado por 10 dias; nunca medicar ou suturar o ferimento por conta própria, sem orientação médica; evitar matar o animal agressor, pois ele pode ser necessário para avaliação ou observação.
O que a população precisa saber sobre os sinais da raiva em animais e como agir ao identificar algum comportamento suspeito?
A raiva é uma doença viral que afeta o sistema nervoso central e pode acometer qualquer mamífero, inclusive cães, gatos e humanos. Nos animais, os principais sinais clínicos incluem: mudanças de comportamento: animais dóceis ficam agressivos e, ao contrário, animais agressivos se tornam quietos e apáticos; dificuldade para engolir e salivação excessiva (“baba”); desorientação, andar cambaleante e convulsões; medo de luz ou água (nos estágios avançados); paralisia, principalmente nos membros posteriores.
Se um animal apresentar qualquer um desses sinais, a recomendação é: não se aproximar ou tentar capturá-lo; isolar o animal, se possível, com segurança e sem contato direto; avisar imediatamente as autoridades de saúde ou zoonoses do município, para que sejam tomadas as medidas adequadas.
A raiva é 100% prevenível com a vacinação, tanto em animais quanto em humanos, mas 100% letal após o início dos sintomas. Por isso, a prevenção e a rapidez no atendimento são fundamentais.