Nem sempre é o sangue que define um pai. Às vezes, é o abraço na hora certa, a lancheira preparada com carinho, ou o colo firme quando o mundo desaba. Às vésperas do Dia dos Pais, a Folha do Aço foi além dos retratos tradicionais para ouvir histórias de homens que desafiam os padrões e se tornam verdadeiros super-heróis na vida de seus filhos.
São pais atípicos, pais do coração, pais solo, homens que, por escolha ou pelas voltas inesperadas do destino, assumiram com amor e coragem a missão de criar, proteger e transformar. Em comum, todos carregam a certeza de que ser pai vai muito além do que está no papel: é presença, afeto e entrega diária.
Amor atípico
O repórter cinematográfico Evandro Freitas é pai de Evandro Júnior do Carmo Foli Freitas, de 15 anos. Ele conta que ser pai de uma criança autista é, todos os dias, aprender a ser herói nos pequenos gestos e celebrar cada conquista como uma grande vitória.
“Eu sou muito abençoado por Deus por ser pai de uma criança muito especial. O Evandro Júnior é meu presente divino. Um domingo por mês, tiro exclusivamente para ele. Ele ama ver os trens, então levo para lugares como o Aterrado e o Santo Agostinho. Também brincamos de bola na quadra. Eu gosto muito de ver ele feliz. Quando digo: ‘Júnior, esse final de semana é seu’, dá pra ver a alegria dele nos olhos. Ele sempre fala: ‘Pai, você me ama muito?’, e eu respondo: ‘Muito, filho!'”, conta, entre risos.
Recentemente, Evandro decidiu eternizar esse amor com uma homenagem no próprio corpo: tatuou no braço esquerdo o nome do filho, a data de nascimento e o símbolo do autismo. “É a forma que encontrei de carregar, visivelmente, esse amor por onde eu for”.
Recomeço de um pai solo
O porteiro Vítor Junior Martins viu sua vida virar de cabeça para baixo em julho do ano passado, quando perdeu a esposa em decorrência de uma fibrose pulmonar. Ele ficou sozinho com os três filhos: João Vitor, então com 11 anos, Maria Clara, de 4, e Ana Júlia, de apenas 3 anos.
“No início, achei que não iria conseguir. Estava frágil emocionalmente, mas fui encontrando forças em Deus e nas poucas pessoas que se mantiveram ao meu lado. Surgiu uma oportunidade de trabalhar próximo de casa e contratei uma babá para ficar com elas no período em que eu estava fora. Mas não foi nada fácil. Muitas babás desistiram, dizendo que eram muito bagunceiras”, relembra, com humor.
Hoje, Vítor trabalha no período noturno, em escala 12/36, o que permite mais tempo com os filhos. “O momento mais desafiador foi no início da perda. Mas um dia acordei e percebi que a única pessoa que eles tinham era eu. Comecei a me levantar, a abandonar a tristeza e a depressão. Graças a Deus, hoje estou mais forte e firme, com o objetivo de cuidar e educá-los como pai e mãe ao mesmo tempo”.
Vítor diz que sua maior força vem de Deus e dos próprios filhos. “Quando chego e vejo eles dormindo, ou quando me recebem com um abraço e um sorriso no rosto, tudo faz sentido. A paternidade, pra mim, hoje tem mais sentido do que nunca. Faço tudo com amor e penso neles antes de qualquer coisa. Sou pai e mãe com orgulho, me dedicando cada dia mais”.
Laço por escolha
O advogado Marcelo Tavares, de 39 anos, decidiu junto com a esposa trilhar o caminho da adoção após anos de tentativas frustradas de engravidar. “No começo, foi difícil aceitar que a gravidez talvez não acontecesse. Mas, quando abrimos o coração para a adoção, tudo fez sentido. A espera foi longa, cheia de expectativas e ansiedade, mas no momento em que olhei nos olhos da minha filha pela primeira vez, eu soube: era ela. Sempre foi ela”.
Marcelo afirma que sua vida ganhou novo significado com a chegada da Clara. “Ser pai vai muito além do sangue. É estar presente, é acordar no meio da noite, é levar e buscar na escola, é ouvir as histórias sem fim antes de dormir. Cada sorriso dela é uma recompensa. A adoção foi, sem dúvida, a melhor coisa que já nos aconteceu. Ela nos escolheu tanto quanto nós a escolhemos. Sou o pai mais feliz e completo que poderia imaginar ser”.
Amor construído
Carlos Henrique, empresário de 42 anos, tornou-se pai na segunda união. Seu enteado, como ele mesmo faz questão de dizer, virou filho do coração.
“Eu não estava lá quando ele deu os primeiros passos, nem ouvi as primeiras palavras. Mas, desde que entrei na vida dele, prometi estar presente para todos os próximos passos. No começo, ele me chamava pelo nome. E tudo bem. Eu sabia que confiança não se impõe, ela se constrói”.
Com o tempo, vieram os desenhos juntos no sofá, os conselhos antes das provas, os abraços sem motivo. “Um dia, do nada, ele me chamou de ‘pai’. Foi como se o mundo parasse por alguns segundos. Aquele menino me escolheu, e eu já tinha escolhido ele há muito tempo. Hoje, quando olho para ele, não vejo ‘enteado’. Vejo um verdadeiro filho. Laços de amor são mais fortes do que qualquer título de sangue”.
Neste ano, o Dia dos Pais será celebrado no próximo domingo (dia 10, uma data que, mais do que presentes ou homenagens, convida à reflexão sobre os diferentes modos de exercer a paternidade. As histórias contadas aqui mostram que ser pai é, sobretudo, um ato de amor diário, construído com paciência, afeto e presença.
Que neste Dia dos Pais possamos celebrar todos aqueles que escolheram, por sangue, por coração ou por destino, estar ao lado de seus filhos com coragem e dedicação. Afinal, heróis de verdade não usam capa, eles seguram a lancheira, dão colo e tatuam no peito – ou no braço – o amor que os move.