Acostumado a olhar pelo retrovisor quando a intenção é desviar o foco de sua administração, o prefeito Neto (DEM-UB) voltou a usar dessa artimanha no decorrer da semana. A estratégia em questão foi evitar respingar em seu governo a denúncia que o cardápio nutricional da merenda servida nas escolas da rede municipal de ensino não está adequado.
No foco das reclamações aparece a empresa paulista Especialy Terceirização, vencedora da licitação ocorrida em 2019, na modalidade menor preço global. Naquele ano, Volta Redonda tinha Samuca Silva como prefeito. Um elemento importante para entender a história: como é de conhecimento público, Neto e o ex-gestor do Palácio 17 de Julho tornaram-se inimigos políticos.
A crise da merenda então se transformou em mais uma oportunidade para Neto mirar na direção de Samuca. “Essa empresa entrou em 2019, com a promessa de melhorar a merenda que a gente servia antes. Isso não aconteceu, pelo contrário. O serviço está com péssima qualidade, merendeiras não estão recebendo todos os seus direitos e hoje (dia 15) demos um ultimato para que essa situação se resolva”, disse o atual prefeito.
A estratégia de transferência de responsabilidade prosseguiu na justificativa de Neto apresentada ao autor da denúncia contra a Especialy, o vereador da base governista Renan Cury (SDD). “Nossas crianças não merecem esse serviço e terão dias melhores, pois isso vai mudar. Avisei ao dono da empresa que eles estão tratando com pessoas de bem, corretas e que diferente do passado vão cobrar dignidade para as crianças. Já pedi estudos que possam viabilizar uma nova contratação, caso a situação não mude imediatamente”, ameaçou o prefeito.
Desde a última semana, Renan Cury vem se pronunciando na tribuna da Câmara Municipal para cobrar soluções. Na última terça-feira, o parlamentar mostrou sua indignação com uma foto que recebeu da merenda das crianças da Creche Aracy di Biase, no bairro Açude. No prato das crianças só havia feijão. “A educação enfrenta graves problemas. Falta salário para as merendeiras e alimento para as crianças. Não há o que justifique isso”, criticou.
O parlamentar recebeu denúncias dando conta que, na semana passada, havia escolas da rede pública municipal servindo de café da manhã apenas vitamina de banana. Esta semana, segundo apurado pelo vereador, as crianças estão tomando café da manhã apenas um achocolatado ralo, muito diluído. Renan revelou ainda atrasos no pagamento de salários, como de merendeiras e de funcionários da limpeza da saúde de Volta Redonda.
“A empresa prestadora de serviços não vem cumprindo o contrato. Tem situação idêntica à Especialy em diversas outras cidades do país. Em Volta Redonda, além de não pagar seus funcionários em dia, não fornece a alimentação adequada para as crianças. Já fui procurado por merendeira chorando porque não tinha dinheiro para a passagem”, afirmou Renan. Segundo informações, na terça, após denúncias, a empresa pagou os salários, mas ainda deve vale-transporte e vale-alimentação.
Em 2019, a prefeitura de Volta Redonda contratou a Especialy Terceirização Eireli, sediada em São Paulo, para o fornecimento de merenda escolar para os mais de 40 mil alunos da rede municipal de Ensino. O contrato gerou uma economia dentro da casa de 25% para os cofres do Governo Municipal, mantendo os padrões e com previsão de melhoria na qualidade da merenda fornecida para os alunos das mais de 100 escolas do município.
O pregão eletrônico daquele ano teve a participação de 11 empresas e o valor final ficou em R$ 16.553.355,91, uma redução de 25%. Agora, diretores de escolas temem que com a saída da Especialy, e com a contratação na modalidade emergencial pretendida pelo Palácio 17 de Julho, a empresa Aex Alimenta Comércio de Refeições e Serviços Ltda., antiga prestadora do serviço em governos anteriores de Neto, reassuma o fornecimento de merenda.