Um dos hobbies do fotógrafo Cesar Coni é ouvir histórias. Entre um bate-papo e outro, normalmente algum fato desperta a sua atenção, fazendo com que ele se aprofunde no assunto. Foi justamente o que aconteceu quando o morador do bairro Vila Santa Cecília, em Volta Redonda, fazia compras na banca de frutas de Geraldo Vieira de Almeida, de 73 anos.

Apesar dos diversos encontros anteriores, Cesar sentia a necessidade de se aprofundar em descobrir mais detalhes da trajetória daquele homem simples, que não se furta em dar atenção aos clientes que o procuram na venda montada diariamente em sua Kombi estacionada na Rua 41-A, também na Vila.

“Eu já conhecia o Geraldo por ser cliente e comprar frutas com ele. Conversamos nos momentos de compra”, recorda o Fundador do “Olhares do Cotidiano”, projeto que tem objetivo de retratar o cotidiano de pessoas, o fotógrafo viu que diante dele estava um personagem com uma grande história. “Quando comecei o projeto, fui pensando em pessoas que tive contato na cidade e que eu tinha curiosidade, interesse, em conhecer a história”, completa.

No dia 18 de outubro, Cesar compartilhou o vídeo com pouco mais de quatro minutos do idoso relatando o que passou nessas mais de sete décadas. “Meu pai era muito pobrezinho e não conseguiu dar estudo para nós. Viemos da roça e não temos estudo nenhum. Sei só assinar meu nome e costumo errar ainda”, conta seu Geraldo.

No depoimento, que até esta semana recebeu mais de 53 mil visualizações, o idoso explica a razão que o levou a montar a banca de frutas. “Trabalhei capinando lote para os outros, furando poço, mas agora não aguento mais. A idade já está avançada, aposentei por idade e ganho salário mínimo. Trabalho para inteirar”, explicou ele.

O único momento em que o sorriso é deixado de lado por Geraldo Vieira ocorre quando ele fala de sua saúde. “A coluna não ajuda mais, tenho epilepsia que me derruba, às vezes. Se eu ficar nervoso, caio na hora”, pondera, mas logo em seguida o otimismo volta a fazer parte do discurso do comerciante. “Vamos levando, né, com um pouco de dificuldade, mas Deus ajuda que a gente chegue lá. Ele tem me dado saúde, tirando esse problema de saúde, o resto dá para ir, e Jesus vai abençoando”.

O vídeo é finalizado com Cesar Coni e seu Geraldo emocionados. No entanto, a história não encerrou aí. A universitária Isabella Julietto, ao tomar conhecimento, sentiu a necessidade de ajudar.

“Eu não conseguiria só curtir, comentar e não fazer mais nada pelo senhor Geraldo. Mandei mensagem para o Cesar e perguntei se ele poderia ir comigo lá, já que eu tinha tido uma ideia, que era fazer outro vídeo, postar no meu Instagram, para alcançar meus amigos, familiares e o pessoal que gosta da gente mesmo. A meta era fazer e vender 100 bolos”, disse Isabella.

Junto com o fotógrafo, a estudante de engenharia química foi conhecer o vendedor. “Acho que ele nem tinha entendido. O Cesar fez o vídeo e postei, despretensiosamente, achando que estaria abalando se vendesse 100 bolos. Mas no mesmo dia, o vídeo bateu 15 mil visualizações em 3 horas. Começaram a chegar diversas  mensagens de pessoas grandes, com muitos seguidores, que repostaram. No dia seguinte, eu não estava dando conta de responder tantas mensagens”, detalha a jovem.

Somente quando retornou à Kombi onde Geraldo vende as frutas que ela, enfim, conseguiu explicar o objetivo da sua atitude. “Ele achava que só receberia o valor das laranjas que comprei. Foi quando expliquei que todo dinheiro arrecadado com o lucro dos bolos seriam para ele, que chorou e disse que não merecia um carinho tão grande. Choramos ele e eu”, conta.

Os bolos de laranja continuam sendo vendidos pela universitária e aqueles que quiserem ajudar, podem entrar em contato pelo Instagram @isabellajulieto. “A gente acha que para ajudar precisa dar dinheiro. Eu não tenho, então estou doando o que posso, meu tempo, e o que sei fazer, que são os bolos. Me propus a doar o tempo e minha experiência para ajudá-lo. Já conseguimos arrecadar bastante para o senhor Geraldo e ainda estamos vendendo os bolos”, celebra.

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