Em março de 2020, o Brasil presenciou o começo de sua maior crise sanitária nos últimos 100 anos: a pandemia da Covid-19. Profissionais da saúde foram desafiados, negócios fecharam às portas, trabalhadores foram mandados para casa e o isolamento social foi regra na maior parte do ano.
Como era de se esperar, com a menor circulação de pessoas nas ruas, os índices de criminalidade sofreram alterações que podem até mesmo serem consideradas radicais para os padrões do Estado do Rio. Segundo os dados mais recentes do Instituto de Segurança Pública do Estado (ISP), divulgados no dia 27 de janeiro, foram registrados 3.536 assassinatos no ano de 2020, número 12% menor que no ano anterior e, pela primeira vez desde 1991, abaixo de 4000.
Entretanto, mesmo em um ano atípico cortado por uma quarentena destinada a salvar vidas e desafogar o atendimento nos hospitais, alguns municípios da região Sul Fluminense enfrentaram uma escalada nos crimes violentos, como os homicídios dolosos, caminhando na direção contrária aos dados estaduais. Liderando o ranking do aumento de homicídios está Barra do Piraí, cidade pacata da região, que vivenciou no ano de 2020 um salto no número de assassinatos. Ao longo do ano passado, a cidade teve 31 homicídios dolosos, um aumento de 101% em relação aos 15 assassinatos ocorridos em 2019.
Segundo o delegado Rodolfo Atala, titular da 88ª DP, grande parte dos crimes foram praticados por suspeitos residentes em outros municípios. “O que observamos é que muitos homicídios foram praticados por criminosos que não são de Barra do Piraí. Vieram de fora, executaram as vítimas e foram embora. Vinham até Barra do Piraí exclusivamente para cometer homicídios. Isso, num primeiro momento, pode parecer que dificulta o trabalho, uma vez que estes criminosos não são reconhecidos por testemunhas daqui, mas a polícia tem várias formas de agir numa investigação. E conseguimos identificá-los, assim como os mandados de prisão”, contou Atala. O delegado ainda explicou que esses crimes se devem a disputas por território entre traficantes rivais.
Resende, município da região que tem a segurança sob responsabilidade da 89º DP e do 37º Batalhão de Polícia Militar, também obteve um salto brusco nos assassinatos, mesmo durante um período marcado por restrições quanto à circulação. A cidade das Agulhas Negras teve 49 homicídios dolosos em 2020, indicador 44,8% maior que os 27 registrados em 2019.
“Em 2019, conseguimos fazer um trabalho de redução muito grande no número de homicídios. Então qualquer elevação dá uma alteração grande no percentual”, pontuou o delegado Michel Floroschk, responsável pela delegacia de Resende. No ano de 2018, Resende teve 59 assassinatos, maior número já registrado na série histórica disponibilizada pelo ISP. Ainda nas proximidades do Pico das Agulhas Negras, mais uma surpresa negativa: Itatiaia subiu de nove assassinatos, em 2019, para 12 no ano passado. Barra Mansa, segunda maior cidade da região em número de habitantes, teve aumento de 4% nos homicídios: foi de 40, em 2019, para 42, no ano passado.
Angra e VR apresentam queda
Os números do Instituto de Segurança Pública revelam que duas das maiores cidades da região acompanharam a queda registrada na média estadual. Neste caso, Angra dos Reis e Volta Redonda.
No município da Costa Verde, 67 assassinatos intencionais foram contabilizados ao longo de 2020, o que representa uma redução de 24,7% quando comparados aos 89 do ano de 2019.
Já a Cidade do Aço, que terminou 2019 com 89 homicídios, obteve índices melhores em 2020. No total, 70 assassinatos foram computados, uma redução de 21% em relação ao ano anterior.