O frenesi do início da vacinação contra a Covid-19, com grande procura nas unidades de saúde, demonstrava a ansiedade da população pela imunização. No entanto, com o avanço da vacinação, a queda no índice de óbitos e de internações resultou em um efeito adverso ao esperado pelos governos municipais: a não adesão em massa às doses de reforço.

Segundo dados do boletim epidemiológico de Volta Redonda, 25.382 pessoas não tomaram a segunda dose da vacina até 9 de julho. Entre a segunda e a terceira dose, o número é ainda maior, 37.891 deixaram de tomar o imunizante.

Como efeito, e também pela nova onda de contaminação, a cidade tem 54 pessoas internadas, somando as redes pública e privada, sendo 25 delas na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). No período de 3 a 9 de julho, segundo a secretaria municipal de Volta Redonda, foram registrados 890 novos casos e oito óbitos.

“O Brasil ainda vem registrando média de 250 mortes diariamente e cerca de 50 mil novos casos todos os dias. Números ainda muito altos. Ainda estamos com um patamar muito baixo de vacinação completa com as três doses, quase metade da população ainda não tomou a terceira dose”, alerta o médico Luiz Henrique Conde Sangenis, coordenador da disciplina de Doenças Infecciosas e Parasitárias do UniFOA. “Enquanto não atingirmos um patamar de pelo menos 80% da população com pelo menos três doses da vacina, continuaremos a ter esse número elevadíssimo de casos”.

Um morador de Volta Redonda, de 45 anos, que preferiu não se identificar, disse à Folha do Aço que não pensa em tomar a terceira dose do imunizante. O motivo, segundo ele, é o mal-estar que sentiu logo depois de tomar as duas doses. “Me senti muito mal, tive muito cansaço e um pouco de dor de cabeça”, disse.

Perguntado sobre o perigo que a doença ainda representa, com o país ainda registrando uma média alta de mortes por dia, ele diz que não tem medo. “O que tiver que ser, será”, afirmou.

 No estado

A redução na procura pela dose de reforço não se limita a Volta Redonda, mas ao estado do Rio de Janeiro. Segundo a secretaria de Estado de Saúde (SES), 14.344.636 pessoas se vacinaram com a primeira dose. O número caiu para 12.880.349 imunizados com a segunda e para 7.188.406 na dose de reforço.

Para o médico Luiz Henrique, contar com a sorte em uma pandemia, com a vasta oferta de vacina, pode não ser a melhor opção. Segundo o infectologista, que também trabalha na Fiocruz, é importante a população compreender que o esquema completo de vacinas contra a Covid-19 compreende três doses ou quatro doses, dependendo da faixa etária.

“Se a pessoa tomou apenas uma ou duas doses o esquema não está completo e não confere proteção contra o tipo viral predominante na população, que atualmente é a variante Ômicron. Apenas nas crianças abaixo de 12 anos que ainda não há indicação, até o momento, de aplicação da terceira dose. A terceira dose, portanto, faz parte do esquema primário de proteção contra a Covid-19”, explicou o especialista, que é mestre e doutor em Doenças Infecciosas e Parasitárias.

Luiz Henrique explica que as pessoas com esquema incompleto têm maior risco de apresentar formas clínicas mais graves, maior probabilidade de internação e de óbito. “Principalmente em pessoas com mais de 40 anos ou com alguma comorbidade, como hipertensão arterial, diabetes, asma brônquica, cardiopatia, doenças imunossupressoras, entre outras. Há também maior risco de adquirir a Covid e manter o vírus circulando na população em pessoas não imunizadas corretamente, aumentando a possibilidade de transmissão para outras pessoas da família, no ambiente de trabalho e em ambientes fechados”.

Para quem já teve a doença e acha que está imunizada, Luiz Henrique faz o alerta de que a atitude não é segura. “Muitos acham desnecessário tomar as doses de reforço porque já tiveram Covid e acham que estão protegidos. Isso é um erro muito grande porque a imunidade natural dura em média de quatro a cinco meses, e com as novas variantes que vão surgindo, a pessoa passa a ficar suscetível novamente ao vírus, não sendo raro pessoas que pegaram Covid duas ou até três vezes. A vacinação confere uma proteção muito maior ao vírus, principalmente naquelas pessoas que tomaram o esquema completo recomendado. Mesmo aqueles que já tiveram Covid, devem ser vacinados com todas as doses recomendadas”, ressaltou.

O infectologista detalha ainda que a vacina não impede totalmente de a pessoa ser contaminada pela Covid, mas reduz o risco do quadro piorar. “É importante repetir que a proteção contra a Ômicron só é atingida com pelo menos três doses da vacina. As vacinas não impedem totalmente de a pessoa adquirir Covid. No entanto, conferem menor risco de desenvolver a doença, de apresentar formas mais graves, reduz o risco de internação e de óbitos. Além disso, pegar Covid nunca é uma opção correta, pois ainda aumenta o risco de desenvolver a Covid longa, com fadiga crônica, distúrbios de memória, falta de ar, perda de olfato, paladar, dentre outras complicações”, finalizou.

Foto: arquivo/divulgação

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