Um cenário de dor e indignação tomou conta do Clube Hípico Sul Fluminense, em Volta Redonda, onde, até esta semana, 19 cavalos morreram em decorrência de suspeita de intoxicação alimentar. A tragédia faz parte de um problema ainda maior: já são 122 mortes de equinos registradas em quatro estados brasileiros – Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Alagoas – com outros 36 óbitos ainda sob investigação.
No centro da crise está a empresa Nutratta Nutrição Animal, fabricante da ração consumida pelos animais afetados. O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) determinou, nesta semana, a proibição do consumo de todos os produtos da empresa fabricados a partir de 22 de novembro de 2024, após detectar a presença de monocrotalina, substância tóxica que pode levar à morte de animais – especialmente cavalos.
A decisão foi baseada não apenas na presença da toxina, mas também em falhas graves de controle na linha de produção, como ausência de registros confiáveis e falta de rastreabilidade dos ingredientes utilizados. Ainda segundo o Mapa, mesmo com testes independentes feitos por tutores que não identificaram contaminações, o risco é alto e o consumo deve ser interrompido de forma imediata. A empresa, que está sob investigação federal, teve a comercialização suspensa em todo o território nacional, sem prazo para liberação.
Uma dor que relincha
No Clube Hípico Sul Fluminense, localizado na Ilha São João, em Volta Redonda, o luto é constante. Além dos 19 animais mortos, outros 25 estão em tratamento, alguns em estado crítico. “Estamos passando por momentos muito difíceis. Nenhum suporte foi dado pela Nutratta até agora”, lamenta Christiane Carraro Gallucci, diretora da entidade.
Segundo ela, apenas na primeira semana, um representante da empresa chegou a procurar o clube, pediu desculpas e acenou com a possibilidade de reparação. “Depois disso, sumiu. Não atende mais, não responde. Apareceu uma vez e nunca mais”, desabafa.
A instituição agora precisa de doações para aquisição de feno e soro vitaminado. Quem puder ajudar, pode fazê-lo por meio da chave PIX: 13.855.578/0001-71 (CNPJ).
Vidas com nome, história e saudade
Entre os animais perdidos, histórias comoventes e vínculos emocionais tornam a tragédia ainda mais dolorosa. O ex-prefeito de Pinheiral e atual diretor do Hospital Regional, Ednardo Barbosa, usou as redes sociais para se despedir de sua égua, Talentosa, que morreu na última segunda-feira (dia 23).
“Temperamento forte, mas de uma índole inquestionável. Sabia distinguir uma criança de um adulto montado em seu lombo. Romarias, cavalgadas, carinhos… Lembranças boas não faltarão”, escreveu Ednardo, sem deixar de agradecer pelo apoio dos companheiros do clube. “Estamos fragilizados, mas sairemos fortalecidos diante de tantas perdas e sofrimentos”.
Outro caso que simboliza a perda foi o do garanhão campeão nacional Quantum de Alcatéia, falecido aos 6 anos na última quarta-feira (dia 26). Ícone da raça Mangalarga Marchador, Quantum era considerado um marco na excelência da marcha. Seu sócio e criador, Luciano Lobo, publicou uma homenagem tocante em suas redes sociais:
“Você foi um cavalo tão grande e tão importante que nenhum amante do Marchador consegue ficar indiferente com a sua morte. […] Você não está mais comigo e eu não sei como é criar cavalo sem você. Mas vou usar tudo que me ensinou para seguir em frente.”
A morte de Quantum provocou uma onda de luto na comunidade de criadores e amantes da raça. Muitos relatam que o impacto da perda ultrapassa os aspectos financeiros ou competitivos. “É uma dor que atinge o coração de quem vive com, por e para os cavalos”.
Responsabilidades e consequências
Conforme determina a Lei do Autocontrole (Lei nº 14.515/2022), cabe ao fabricante adotar imediatamente medidas corretivas, como o recolhimento dos produtos. A Nutratta foi procurada pela reportagem da Folha do Aço e informou que encaminharia os questionamentos ao setor jurídico. Até o fechamento desta edição, porém, não houve manifestação oficial. O Ministério da Agricultura e Pecuária segue realizando ações de campo, incluindo necropsias, coletas de amostras e levantamentos nas propriedades onde ocorreram os casos, para identificar, de forma técnica, os fatores relacionados aos óbitos.
Se você deseja ajudar o Clube Hípico Sul Fluminense na recuperação dos animais sobreviventes, contribua com qualquer valor via PIX: CNPJ 13.855.578/0001-71. Cada gesto importa.
Foto: Foco Regional