PMVR anuncia licitação de buffet de R$ 603 mil a três semanas do fim do decreto de calamidade

No próximo 19 de agosto, chega ao fim o prazo de 180 dias do estado de calamidade financeira na saúde, decretado em fevereiro pelo prefeito Neto (PP). Não se sabe se o decreto será prorrogado. Até agora, a prefeitura de Volta Redonda não apresentou relatório público, coletiva de imprensa ou balanço de resultados. Para os moradores, restou apenas o silêncio, e a sensação de que a crise financeira virou pano de fundo para uma administração que, ao mesmo tempo, gasta sem pudor.

No mesmo período em que filas para consultas e exames aumentaram, o Palácio 17 de Julho publicou na terça-feira (dia 29) um edital de licitação que chamou a atenção: R$ 603 mil para contratação de buffet destinado à secretaria municipal de Esporte e Lazer (Smel). O pregão está marcado para 14 de agosto, cinco dias antes do fim do prazo do decreto.

O buffet da crise

Segundo o edital, a empresa vencedora deve oferecer estrutura completa para eventos da Smel: cozinha equipada, salão para 600 pessoas, mesas, cadeiras, cinco gôndolas de self-service e louça de qualidade, pratos de porcelana, talheres de inox e copos.

Também inclui equipe de cozinheiros, garçons e montagem. O cardápio prevê arroz, feijão, frango em cubos, carne à jardineira, strogonoff, saladas, além de bebidas (água, refrigerantes normal e diet, sucos) e sobremesas como paçoca ou “pingo de ouro”.

Uma estrutura digna de grandes eventos, bancada com dinheiro público em uma cidade oficialmente em calamidade.

Uma cidade bilionária em crise

Volta Redonda tem orçamento anual de cerca de R$?1,7 bilhão. Mesmo assim, enfrenta problemas crônicos: falta de água em bairros periféricos, infraestrutura precária, déficit na saúde e um rombo previdenciário de R$?278,7 milhões no Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) dos servidores, segundo relatório atuarial de 2022.

Além disso, em fevereiro, o prefeito Neto oficializou um déficit de R$?32 milhões na saúde, o que justificou o decreto de calamidade reconhecido pela Assembleia Legislativa (Alerj) e pelo governo estadual. Com a medida, a gestão municipal ganhou mais flexibilidade fiscal para tentar recuperar as contas, mas pouco se viu em termos de mudanças concretas.

Gastos contestados

Não é a primeira vez que a prefeitura de Volta Redonda causa polêmica com gastos questionados. Em junho, um edital de R$ 1,5 milhão financiou o Arraiá da Cidadania, evento popular que arrecadou R$ 585 mil para projetos sociais.

No entanto, o custo com gêneros alimentícios e materiais descartáveis passou de R$ 1,09 milhão, sem contar iluminação, som, palco e decoração, cujos valores foram omitidos pela administração. Ou seja, a prefeitura gastou quase o dobro do que arrecadou.

Essa discrepância de 86,5% entre investimento e retorno expõe a falta de eficiência e coerência diante da calamidade financeira.

E agora?

Com o fim do prazo de calamidade se aproximando, cresce a expectativa: o prefeito Neto vai prorrogar o decreto ou declarar que a crise está controlada? Até agora, nenhuma resposta oficial.

Enquanto isso, os números seguem gritando: um orçamento bilionário, um sistema de saúde combalido e um cardápio de luxo licitado em plena calamidade. No dia 19, Volta Redonda pode finalmente descobrir se a crise era uma prioridade ou apenas um decreto conveniente.

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