“Fui enganada por alguém em quem confiava”, afirma advogada de Volta Redonda citada em esquema de falsificação de procuração em cartórios

“Jamais imaginei que pudesse estar sendo enganada, muito menos por alguém com quem mantive uma relação de confiança e que se mostrava um excelente profissional por décadas.” A declaração é da advogada Laís Vale, de 42 anos, moradora de Volta Redonda, que afirma ter sido vítima de um golpe envolvendo a falsificação de procuração em cartórios para o desvio de um precatório, uma ordem judicial para pagamento de dívidas do governo.

O caso foi citado no último domingo (dia 19) em uma reportagem do Fantástico, da TV Globo, que denunciou um suposto esquema de fraudes em cartórios do Rio de Janeiro, envolvendo procurações falsas, venda ilegal de sepulturas, desvios de valores e até o reconhecimento de firma de pessoas já falecidas.

Entre os episódios relatados está o de uma idosa de 82 anos que recebeu uma carta da Receita Federal informando que havia caído na malha fina por não declarar R$ 1 milhão. A família descobriu, então, que ela tinha direito a um precatório, mas o dinheiro nunca foi depositado em sua conta.

“Depois de tantos anos batalhando por uma coisa, realmente é revoltante”, disse o filho da idosa, que preferiu não se identificar. Segundo a investigação, o saque do valor foi autorizado por uma procuração falsificada, que dava poderes à advogada Laís Vale para receber os recursos. A assinatura do documento foi reconhecida por autenticidade no 15º Ofício de Notas.

“Agi de boa-fé”

Em entrevista à Folha do Aço, na tarde de quinta-feira (dia 23), Laís negou qualquer envolvimento em irregularidades e afirmou ter agido de boa-fé ao seguir orientações de um colega de profissão. “Jamais participei de esquema de falsificação, não conheço a tabeliã e nunca estive no cartório investigado. Apenas confiei em um documento com fé pública”, afirmou.

A profissional conta que recebeu o valor a pedido de Daniel Solis, advogado que ela conhecia há mais de vinte anos e que atuava no escritório responsável pelo processo e em quem ela confiava. “Recebi o valor de um precatório a pedido de um advogado com quem mantinha relação de confiança há mais de vinte anos. Ele me solicitou que fizesse o levantamento do alvará de uma cliente dele e que, por motivos pessoais, retivesse em minha conta a parte correspondente aos honorários dele, 30% contratuais e 10% de sucumbência. Conforme o combinado, transferi a parte da cliente ao advogado, que deveria ter transferido à cliente dele, o que não foi feito.”

Ainda de acordo com Laís, a procuração apresentada por Daniel lhe parecia legítima. “A procuração para recebimento me foi entregue por ele, devidamente assinada e com firma reconhecida, da qual, inclusive, foi feita a validação em Volta Redonda. Agindo de boa-fé, confiei nas informações e acreditei estar apenas prestando uma ajuda.”

O extrato bancário da advogada mostrou que o valor total foi transferido para sua conta e, no dia seguinte, a parte da cliente foi integralmente repassada para a conta do próprio Daniel, apontado por ela como o responsável pelo pedido de recebimento do precatório.

Depoimento e investigações

Laís Vale foi ouvida pela Polícia Civil e teve o sigilo fiscal quebrado durante as investigações. Na última segunda-feira (dia 20), ela prestou depoimento na Delegacia Especial de Atendimento à Pessoa da Terceira Idade (DEAPTI), em Copacabana, zona sul do Rio. “O inquérito policial corre sob sigilo, e fui orientada a não me manifestar sobre o caso. Ainda assim, sigo prestando meus esclarecimentos com serenidade, porque confio na verdade e na Justiça”, disse.

Segundo Laís, que está formada há 20 anos, desde que descobriu que a procuração era falsa, ela tem colaborado integralmente com as autoridades. “Quando tomei conhecimento de que a procuração era falsa, decidi agir com transparência: concedi entrevista e compareci à delegacia para prestar todos os esclarecimentos. Reitero que jamais ficaria com dinheiro de cliente e jamais participaria de qualquer falsificação de documento.”

Outro lado

O advogado Daniel Solis, apontado por Laís Vale como o responsável por repassar o documento e solicitar o levantamento do precatório, ainda não prestou depoimento e não respondeu aos contatos da reportagem. A Polícia Civil informou que o inquérito segue em andamento e está sob sigilo judicial.

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