As eleições 2022 devem levar mais de 156,45 milhões de brasileiros às urnas para escolher futuros governadores, senadores e deputados (federais, estaduais e distritais), além de eleger o próximo presidente da República. Desse número, pelo menos 23,34 milhões devem votar por vontade própria, já que estão desobrigados deste compromisso cívico.
Conforme a Constituição Federal, o voto é facultativo para pessoas analfabetas, jovens com 16 ou 17 anos e idosos com mais de 70 anos. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), esse eleitorado representa um em cada sete brasileiros, um crescimento de 27% em relação ao pleito de 2018.
Lavinea Cespes é uma dessas pessoas e está ansiosa para votar, pela primeira vez, no próximo dia 2 de outubro. Aos 16 anos, a jovem diz avaliar não apenas as propostas dos candidatos como também suas posturas. “Escolhi um candidato que teve resposta para tudo no último debate. Que falou muito bem sobre a educação e a economia no Brasil. Tem planos perfeitos e é ficha limpa”, comenta a eleitora, moradora de Valença, na região Sul Fluminense.
A estudante lembra que a importância de exercer o poder democrático tem um histórico marcante, por conta das diversas lutas em prol do direito ao voto, principalmente feminino, no Brasil.
“Sabendo disso, usufruir do meu direito faz com que eu valorize os movimentos que foram feitos e possa decidir sobre o futuro de uma nação ou povo, pois quem estará à frente defende teses e ideias da qual eu compartilho e acredito que vá agregar para todos. Eu estudo em um colégio federal, que depende totalmente do governo. Também dependo do governo para fazer uma faculdade e acredito que a educação precisa melhorar urgentemente. Eu amo falar sobre política, por isso fiz questão de tirar o título assim que pude. Falar de política sem ter título não tem nexo”, compara.
Lavinea ainda acrescenta: “Crescemos ouvindo que as crianças e jovens são o futuro da nação e, através do voto, podemos realmente moldar nosso futuro apoiando candidatos que julgamos ter um ideal político de mudanças”.
Assim como Lavinea, o estudante Victor Azevedo, de mesma idade, também irá participar das eleições deste ano. Porém, diferente da jovem, ele ainda não decidiu sobre seus candidatos.
“Estou analisando com calma, assistindo aos debates, acompanhando as entrevistas e lendo seus materiais de campanha. Quero votar consciente das minhas escolhas e contribuir com meu estado e por um país melhor”, ressalta o morador do bairro Monte Castelo, em Volta Redonda.
No auge dos seus 80 anos, Eliana Leal é exemplo de cidadania e sua presença está mais que garantida na seção onde vota há décadas, em Barra Mansa. Para a aposentada, o ato de votar, além de contribuir com a política do país, a faz se sentir “viva e útil”.
“Há leis e políticas públicas para os idosos, então por que não termos o prazer de ajudar a eleger nossos representantes, aqueles que acreditamos que cuidarão bem de nós? Infelizmente eu dependo de alguém para me levar, por conta da mobilidade prejudicada, mas tenho certeza de que um dos meus filhos ou netos irão me ajudar nisso”.
Para o cientista político Guilherme Avila Teixeira, a população idosa, que a partir dos 70 anos não precisa comparecer às urnas, muitas vezes possuem um forte sentimento de dever à democracia.
“Após a ditadura militar, com a redemocratização, o voto passou a integrar os direitos dos cidadãos, e muitos que passaram por este contexto político de nosso país ainda sentem o dever de honrar esse direito”, analisa Guilherme.
O especialista destaca que, com relação à juventude, as redes sociais têm papel fundamental na captação de votos. “Elas são, muitas vezes, os principais canais de comunicação dos políticos e é através delas que estes tentam obter seus votos. Vimos no começo do ano diversas campanhas nas redes sociais que promoviam incentivos para os jovens a partir de 16 anos obterem o título de eleitor, e elas foram fundamentais no aumento dos números de emissões do documento. Uma coisa é clara, os políticos que conseguirem captar os eleitores facultativos terão à disposição milhões de votos que podem fazer total diferença em uma eleição”, conclui.
No município de Barra Mansa, dos 135.565 eleitores, 371 têm 16 anos, 657 têm 17 anos e 14.032 têm mais de 70 anos. Em Resende, há 300 eleitores com 16 anos, 494 com 17 e 9.615 com mais de 70 anos, todos aptos a votar. No total, somando com os demais eleitores, são 97.051 votantes na cidade.
Já em Volta Redonda, do eleitorado de 225.799 pessoas, 716 têm 16 anos, 1.132 têm 17 e 25.442 representam a faixa acima de 70 anos.
Abstenções
A cientista social Ana Paula Perrota lembra que o voto é uma das manifestações do direito político que, em um regime democrático, é fundamental para que a população seja capaz de escolher seus representantes e ter a perspectiva de que seus princípios e escolhas serão efetivadas na vida pública. “O direito político, e a própria política, são muito mais amplos que a escolha de representantes, contudo pesquisadores refletem sobre como no Brasil resumimos a política ao tempo da eleição. Ainda que façamos essa simplificação, é possível observar uma negligência tanto ao ato de votar quanto ao modo como os eleitores fazem essa escolha. As duas últimas eleições, em 2018 e 2020, tiveram recordes de abstenções. E se a de 2020 encontrou explicação na pandemia, a de 2018 não teve qualquer motivo externo ao processo eleitoral que pudesse justificá-la. Mas para a eleição deste ano, o TRE comemora o inverso, o número recorde de jovens que, mesmo podendo escolher não votar, tiraram o título de eleitor. Mais pessoas habilitadas a votar, contudo não implicam necessariamente que não teremos números ruins em termos de abstenções”, resume.
Ainda de acordo com Ana Paula, se o voto é um direito político que foi conquistado e universalizado a duras penas, tendo em vista o processo ditatorial, o seu valor é inquestionável. “O período recente da situação política do Brasil tem sido turbulento e nos últimos anos entramos numa forte crise socioeconômica que aumentou o número do desemprego, da inflação e trouxe o país de volta para o mapa da fome. E faço menção a essa situação para pensar sobre esse ponto de inflexão no desinteresse eleitoral. Podemos afirmar que uma situação de mudança do país, que estabeleça também mudanças sobre esses números, é hoje desejo de milhares e milhares de brasileiros que sofrem direta ou indiretamente com a queda importante desses índices socioeconômicos. E observamos que o voto é nesse momento reconhecido como um elemento importante para essa mudança”.