A baixa procura por vacina levou o Ministério da Saúde a prorrogar até o dia 30 de setembro a Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite. A ação começou no dia 8 de agosto e tem como meta imunizar 95% das crianças de 0 a 5 anos. Porém, até o início desta semana, só foram vacinadas 35% desse público-alvo.
O Rio de Janeiro figura entre os estados com menor cobertura vacinal, com 17,1% das crianças imunizadas, superando apenas Roraima (12,8%) e Acre (17%). Moradora de Volta Redonda, a fisioterapeuta Adriana dos Santos fez questão de procurar uma unidade de saúde para imunizar o filho Enzo, de 4 anos, contra a doença que causa a paralisia infantil.
Como bom exemplo de profissional da área da saúde, Adriana diz não deixar atrasar nenhuma vacina na caderneta do pequeno. “A cada dose tomada, um certo alívio para a família. Em um mundo onde cada vez são descobertas novas doenças, como Covid e Varíola dos Macacos, não dá para descuidar e muito menos esquecer das enfermidades mais antigas e que também merecem atenção”, destaca.
Infelizmente, essa não é a realidade de muitas famílias. Uma moradora da cidade vizinha, Barra Mansa, que não quis ter o nome revelado admite ter se esquecido da Campanha. “Confesso que não me atentei mesmo. É tanta correria no dia a dia e diante da grande preocupação com a Covid, a gente acabou deixando as outras causas de lado. Mas é bom saber que prorrogaram a campanha, não vou perder”, garante a universitária, mãe de uma menina de 2 anos.
Segundo a secretaria de Saúde de Volta Redonda, até a terça-feira (dia 6), 3.199 doses contra a Poliomielite foram aplicadas no município. O número representa 25% do público-alvo da campanha, que é estimado em 12.543 crianças, percentual superior ao registrado no estado do Rio de Janeiro.
A direção da pasta ressalta que, na Cidade do Aço, a vacinação contra a Poliomielite ocorre ao longo do ano, em todas as unidades básicas de Saúde do município, de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h. Além disso, ações são realizadas pela SMS para atrair mais crianças, entre elas a divulgação da Campanha e a ampliação dos locais de imunização, como no último dia 20.
“Na ocasião, foram ofertados 49 pontos de atendimento (46 unidades de saúde, mais os shoppings Sider e Park Sul e o Zoológico Municipal)”, diz a secretaria de Comunicação em nota à Folha do Aço.
BM
Em Barra Mansa, a secretaria de Saúde informou que seguirá as orientações divulgadas pelo Ministério da Saúde com o objetivo de aumentar as coberturas vacinais e a adesão da população à vacinação.
“Até o momento, cerca de 3.225 crianças foram vacinadas contra a Poliomielite na cidade, que possui aproximadamente 8 mil crianças entre 1 e 4 anos, 11 meses e 29 dias”, informou o governo municipal. “Barra Mansa segue divulgando informações sobre a Campanha através das redes sociais e dos meios de comunicação locais. Agentes de saúde também estão indo de casa em casa para conscientizar a população sobre a importância da imunização”.
Mesmo com o final da campanha, no dia 30 de setembro, o imunizante continua disponível nos postos durante o ano todo. Recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) colocou o Brasil como um dos 10 países com risco de retorno da doença.
Importância
Foi graças à vacinação que a Poliomielite foi erradicada das Américas em 1994, uma conquista, entretanto, que pode ser perdida caso o índice de cobertura vacinal se mantenha baixo. Segundo o Ministério da Saúde, o grupo-alvo é composto por mais de 14.3 milhões de pessoas, sendo que as crianças menores de 1 ano deverão ser vacinadas conforme a situação vacinal encontrada para esquema primário.
As crianças de 1 a 4 anos deverão ser vacinadas indiscriminadamente com a Vacina Oral Poliomielite (VOP), desde que já tenham recebido as três doses de Vacina Inativada Poliomielite (VIP) do esquema básico. Este imunizante protege a criança de três tipos diferentes do vírus que causam paralisia infantil e a recomendação da OMS e da Sociedade Brasileira de Imunização é a de que sejam ministradas três doses da VIP até os 6 meses e que sejam tomadas outras duas doses da vacina até os 5 anos, que pode ser tanto por via oral ou injetável.
“A vacina previne a paralisia infantil, uma doença erradicada, mas que tem risco real de retornar se as crianças não forem vacinadas. Uma situação parecida com a do sarampo, uma doença que havia sido erradicada, mas que voltou devido à baixa cobertura vacinal. Um dos motivos da baixa procura dos postos foi a pandemia. Muitas famílias deixaram de levar as crianças para vacinar, deixaram de procurar as unidades de saúde”, alerta o pediatra Luciano Costa.
O professor do curso de Medicina UniFOA destaca outra questão para a queda no número de crianças vacinadas. “Nem todas as vacinas estão disponíveis em todos os bairros. Em alguns casos, as famílias precisam ir a uma unidade de outro bairro onde tem aquela vacina. A facilidade que tinha antes da pandemia, de ter todas as vacinas em todos os postos, não temos mais. Isso dificulta um pouco também”
Luciano Costa lembra ainda que além da pólio, outras vacinas também estão com essa baixa procura. “Então, é mesmo importante que haja uma campanha como essa, que se intensifique e as famílias levem as crianças às unidades de saúde, fiquem com o calendário em dia”, indica.
Segundo o médico, uma vez que uma criança não é imunizada contra o vírus, no caso da poliomielite, ela pode ter sequelas graves, até mesmo a amputação de membro. “No futuro, ela pode ter uma deficiência limitadora”, conclui.