O livro “Milton González: o uruguaio de Ipanema”, escrito pelo jornalista e radialista Bruno Azevedo, revela a trajetória fascinante de um dos barraqueiros mais conhecidos da Praia de Ipanema e o legado de um dos sanduíches mais famosos da Zona Sul carioca. A obra, publicada pela editora Casa Cultura, conta com prefácios do renomado publicitário Washington Olivetto e também do deputado federal Chico Alencar (PSOL).

Bruno Azevedo, que é natural de Volta Redonda, conta como foi o processo de pesquisa para retratar a trajetória fascinante de Milton González e revela quais as suas maiores descobertas ao mergulhar na vida desse personagem icônico. “Eu sabia que seria uma história interessante, mas me surpreendi com a riqueza de detalhes e, principalmente, com a força que essa pessoa tem. Ele conseguiu transformar seus piores momentos em motivação para seguir em frente. Por tudo o que ele passou, seria de se esperar que hoje ele fosse alguém revoltado, mal-humorado e ríspido com quem o cerca, mas ele é exatamente o oposto disso. É um cara admirável”, afirma o jornalista.

Três eventos marcantes foram realizados nos últimos dias 22, 24 e 25 de junho para celebrar o lançamento e divulgar a história do proprietário da famosa Barraca do Uruguay. Milton González é mais do que um simples comerciante. Sua vida transcende as fronteiras do Brasil e do Uruguai, revelando-se como uma figura emblemática que testemunhou e viveu momentos históricos que marcaram ambos os países nos últimos anos.

Para o autor, Milton representa, na essência de seu significado, a palavra ‘resistência’. “Quando você para pra conversar com ele, percebe que está diante de uma pessoa de convicções, mas que isso não lhe tira (até hoje) a vontade de conversar e – porque não? – converter os que pensam diferente. Ele traz a militância de 50 anos atrás intacta”, explica Bruno.

Nascido em Canelones, a figura conhecida da Praia de Ipanema, é também ex-jogador de futebol e sindicalista. Enfrentou perseguição, prisão e tortura durante o golpe civil-militar no Uruguai em 1973. Buscando refúgio no Brasil, ele se estabeleceu no Rio de Janeiro, onde passou anos vivendo como clandestino até reunir sua família. Para sustentar a prole, Milton começou a vender sanduíches na praia, conquistando o paladar dos frequentadores.

A barraca familiar, localizada no prestigiado Posto 9, se tornou um ponto de encontro para políticos e artistas. Por ali, passaram personalidades, como Aloizio Mercadante, Fernando Gabeira, Chico Buarque, Caetano Veloso e até mesmo o presidente Lula. O tradicional pão francês recheado com carne, frango ou linguiça, acompanhado de cebola, tomate e molho chimichurri, é tão famoso na região que o renomado chef Anthony Bourdain, conhecido por seus programas de TV sobre culinária, fez questão de apreciá-lo. O sanduíche de Milton, inclusive, ganhou destaque no “Guia de gastronomia de rua carioca”.

Embora tenha enfrentado desafios, a família González continua resistindo e mantendo viva a tradição do sanduíche. Atualmente, o “carro-chefe” da barraca é preparado pela esposa Glória, enquanto os filhos ajudam no negócio. A história de superação de Milton González é também um grande exemplo de resiliência e amor familiar.

O livro de Bruno Azevedo é uma oportunidade para mergulhar na vida desse homem extraordinário, que personifica como poucos as palavras sofrimento, fragilidade, fidelidade, resignação, superação, conquista, felicidade, família e amor. Milton González é um exemplo de força e resiliência, e sua história merece ser conhecida.

“A mensagem principal é dizer que a história não pode ser mudada, por mais que ela te incomode. Houve, sim, uma ditadura cruel em vários países latinos, como também temos hoje muitos que ainda defendem esse tipo de regime. Então, se você mora em um país democrático, onde existem poderes constituídos e independentes, trabalhe para que eles sejam aperfeiçoados, mas nunca peça a extinção dos mesmos. Precisaremos sempre de um poder judiciário firme, de um congresso atuante e de um executivo que deva satisfação aos mesmos”, classificou Bruno Azevedo.

Sobre o autor

Natural de Volta Redonda, Bruno Azevedo é radialista e acumula passagens pelas rádios do Comércio e Sul Fluminense (ambas na cidade de Barra Mansa), Rádio Globo (onde foi diretor de jornalismo de uma afiliada na cidade de Macaé), além das cariocas Bandnews e Transamérica, e trabalhos em jornais impressos (como repórter e colunista). Sua trajetória profissional acumula experiências em reportagens policiais e com coberturas do cotidiano urbano, mas foi o futebol que permeou a maior parte de sua caminhada. Nessa área, foi repórter, comentarista e apresentou uma série de programas esportivos nas emissoras em que trabalhou.

Amante do rock, apresentou e produziu um programa do gênero da Rádio Transamérica do Rio entre os anos de 2017 e 2019, onde revelava novas bandas da cena carioca. Sua amizade com Milton Gonzalez começou a ser construída numa manhã ensolarada de 2008, quando houve afinidade mútua. Desde então, os laços se fortaleceram a ponto de o autor sentir a necessidade de ver a história desse simpático uruguaio virar livro.

Foto: divulgação

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