O estado do Rio de Janeiro enfrenta um aumento preocupante nos casos de coqueluche em 2024, com 230 infecções registradas até o momento. Não havia registros da doença há dois anos. A coqueluche, causada pela bactéria *Bordetella pertussis*, é uma infecção respiratória altamente contagiosa, cuja transmissão ocorre principalmente por via aérea, especialmente em locais aglomerados. Volta Redonda já confirmou quatro casos neste ano, enquanto em 2023 foram apenas dois.
De acordo com o pneumologista Gilmar Zonzin, a coqueluche se manifesta principalmente por uma tosse intensa e persistente, que pode levar à convulsão respiratória e, em alguns casos, a desmaios e vômitos. “Entre os acessos de tosse, o paciente pode aparentar estar bem, mas ao retornar a tosse convulsa, apresenta uma inspiração ruidosa e intensa”, explica o especialista.
Esse padrão cíclico, com períodos de alívio seguidos por recaídas, é uma característica marcante da coqueluche, e os sintomas podem se prolongar por meses. A vacinação é o principal método de prevenção contra a coqueluche e faz parte do calendário vacinal do SUS, que oferece doses a partir dos dois meses de idade, com reforços até os seis anos.
Profissionais de saúde e gestantes também recebem doses de reforço da tríplice acelular (DTPa), que protege contra difteria, tétano e coqueluche. Em Volta Redonda, a vacinação foi ampliada para mães com filhos de até um ano. Essa iniciativa, segundo a diretora do Departamento de Vigilância em Saúde da SMS, Milene Paula de Souza, segue a orientação da subsecretaria de Estado de Vigilância e Atenção Primária à Saúde.
“Recebemos o alerta sobre a ocorrência de mortes por coqueluche em menores de um ano no nosso estado, em decorrência da não vacinação das gestantes com a vacina dTpa, que deve ser ministrada a partir da 20ª semana de gravidez”, afirmou Milene. Dos casos confirmados no estado, 34 são menores de um ano, e três mortes ocorreram nesse grupo etário – bebês que tinham de um a quatro meses e cujas mães não receberam a dTpa durante a gestação.
Baixa adesão
Apesar da oferta de imunizantes, uma preocupação apontada por Zonzin é a baixa adesão da população, que compromete a chamada “proteção de rebanho”. “A queda na cobertura vacinal aumenta a circulação da *Bordetella pertussis*, afetando crianças, adultos e idosos que não estão mais protegidos pela imunização, cuja eficácia pode durar até 10 anos”, alerta o pneumologista. Embora a revacinação a cada década, especialmente em adultos, pudesse reduzir os casos, o reforço não está previsto no calendário de imunização do sistema público.
Diagnóstico e medidas de contenção
“Identificar a coqueluche nem sempre é simples, pois seus sintomas iniciais podem ser confundidos com outras infecções respiratórias”, explica o pneumologista. O diagnóstico é realizado por testes como PCR e exames sorológicos, que confirmam a presença da bactéria ou anticorpos no organismo, mas exigem a coleta de material específica e têm um tempo de processamento considerável. Com o aumento dos casos, o médico Gilmar Zonzin acredita que há uma subnotificação da doença, especialmente entre adultos, onde os sintomas podem ser mais leves. “Para reduzir a transmissão, é fundamental que pessoas com sintomas respiratórios utilizem máscaras, cubram a boca ao tossir e evitem aglomerações. Pacientes diagnosticados na fase inicial, quando a doença é mais transmissível, devem ser afastados temporariamente de atividades em grupo, especialmente em creches e escolas, para conter o avanço da infecção.”