Por Adelson Vidal Alves

O PT é conhecido por fabricar narrativas mirabolantes da política e da história. Em 2002, com a vitória de Lula à presidência da República, quis recontar a história do Brasil. No mundo real, Lula chegaria ao poder em aliança ampla com setores do capital produtivo e financeiro. No Banco Central, seria nomeado um tucano do BankBoston e a política de juros e austeridade remunerou com generosidade os grandes bancos e os subsídios fiscais garantiram altíssimos lucros aos empresários.

Disse Lula: “Se tem uma coisa que nenhum empresário brasileiro pode se queixar nos meus seis anos de mandato é que nunca se ganhou tanto dinheiro como no meu governo” (Folha de São Paulo, 22/05/ 2009). Mas no discurso petista, Lula seria um herói defensor dos pobres que causou revolta nas elites, estas não o suportariam.

No entanto, que elite iria reclamar de um governo que funcionou a seu favor? Na versão petista, ainda, o Brasil seria até então um mar de desgraça, somente com Lula, o “grande messias popular”, entramos de fato na modernidade, com justiça aos pobres e oprimidos. Uma nova história do Brasil era apresentada.

Em 2005, o partido do presidente entrou numa profunda crise ética com a descoberta do mensalão, espécie de mesada dada pelo governo a parlamentares que votassem com os interesses governamentais. O PT fez autocrítica? Que nada! O marketing do partido resolveu criar uma versão alternativa aos claríssimos indícios de desvio moral partidário: tudo não passava de invenção da imprensa golpista, interessada na derrubada do governo.

Foi em 2016 que veio o grande projeto de narrativa do partido. O impeachment da presidente Dilma, feito sob os ritos constitucionais com direito à ampla defesa, virou golpe. A presidente que agiu criminosamente contra a saúde fiscal do país, cometendo assim crime de responsabilidade, entraria para a narrativa como uma golpeada pelo parlamento. Collor, 23 anos antes, não teve o mesmo tratamento pelo PT.

A balela do “golpe” não foi além dos círculos militantes. Pesquisa realizada pelo Datafolha nos dias 7 e 8 de abril de 2016, apontava que 61% dos entrevistados apoiavam o impedimento da presidente, e as ruas registraram quase quatro milhões de pessoas exigindo a saída de Dilma.

Hoje, três anos depois do impeachment, nenhum país de relevância democrática rompeu relações com o Brasil, que não passou por nenhum processo regimental nos organismos internacionais. Para o mundo e as nossas instituições, o que houve no país foi uma destituição constitucional da presidente, a narrativa do golpe fracassou.

Mas o PT não muda. Gradativamente ele apresenta sua versão para a vitória de Bolsonaro. Uma análise minimante atenta do resultado eleitoral te permitirá ver o aspecto decisivo para o triunfo do capitão da reserva: o antipetismo. A hostilidade ao PT nasceu de seu persistente discurso de polarização, o “Nós contra eles”. Essa forma de fazer política empurrou a classe média, então eleitora de partidos de centro como o PSDB, para o fascismo bolsonarista, visto como único caminho para tirar o petismo do poder.

Pesquisas indicavam que Ciro Gomes venceria Bolsonaro no segundo turno, era a única saída para impedir a atual situação. Mas o partido insistiu na figura fraca de Haddad, vencido com facilidade no segundo turno. O PT segue se recusando a fazer autocrítica, e concentra agora suas forças na bandeira do Lula Livre! Sobre isso, falaremos em outro artigo.

* Adelson Vidal Alves é historiador

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