Depois de um ano difícil em 2019, a economia brasileira, especialmente a indústria, apresentava sinais de recuperação em janeiro de 2020. Porém, a crise de saúde provocada pelo coronavírus tomou o mundo e chegou ao Brasil. Um cenário dominado por incertezas, nada atraente para investidores, se instalou. Tanto os governos quanto o setor privado tiveram que enfrentar desafios de proporções inéditas para evitar recessão e retomar o crescimento da economia.
Hoje, mesmo ainda com a incerteza sobre a data para chegar ao mercado uma vacina contra a Covid-19, o cenário aponta para uma ligeira melhoria. Na região Sul do estado do Rio de Janeiro, as maiores empresas, como Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e as montadoras do setor automobilístico – como Nissan, Peugeot-Citroën, Man Latim America e Land Rover – aos poucos tentam retomar a produção pré-pandemia.Em sua planta de Volta Redonda, na Usina Presidente Vargas, a CSN trabalha com a possibilidade de reaquecer em novembro o Alto-Forno 2, que foi desligado em maio. Contratações estão sendo realizadas, por meio da CBSI, que pertence ao grupo.
Já os funcionários das montadoras instaladas nos municípios de Porto Real, Resende e Itatiaia tiveram uma boa notícia, com o mês de agosto registrando os melhores números desde o início da pandemia, o que comprova que a crise mais aguda ficou delimitada ao segundo trimestre.
Comparação
Na comparação com julho, a produção de autoveículos se destacou (210,9 mil unidades), com crescimento de 23,6%, de acordo com levantamento divulgado pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Os licenciamentos (183,4 mil) cresceram 5,1%, enquanto as exportações (28,1 mil) caíram 3,4%.
Porém, quando confrontados com os volumes de agosto do ano passado, esses três números registraram quedas superiores a 20%, indicando um longo caminho de recuperação até os níveis pré-pandemia.
No acumulado dos primeiros oito meses, a comparação é ainda mais desfavorável. Os licenciamentos (1.166,7 mil) recuaram 35%, as exportações (176,7 mil) encolheram 41,3% e a produção (1.110,8 mil) despencou 44,8%, repetindo volumes similares aos de quase vinte anos atrás. “É como se perdêssemos 3 meses de vendas internas e quase quatro meses de produção”, analisa Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea. “Se não fosse a pandemia, na metade de maio já teríamos chegado aos patamares atingidos nesse fechamento de agosto”, acrescenta, evidenciando o tamanho das perdas do setor automotivo.
O setor de caminhões, área em que Man Latim America, com fábrica em Resende atua, apesar da retração de 15,3% nos emplacamentos de agosto (8,1 mil unidades) sobre julho, ainda apresenta quedas menos dramáticas no acumulado do ano, com recuo de 14,9% nas vendas e 17,8 nas exportações. Já na produção, as perdas são de impressionantes 36,6%.
CNI
De acordo com o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, a retomada da economia após a pandemia da Covid-19 será difícil e depende de iniciativas como acesso ao crédito, renegociação de dívidas, incentivo à inovação e adoção de reformas estruturais
“São muitas as tarefas a serem enfrentadas pelo setor público, pelas empresas e por toda a sociedade, para que seja possível mitigar ou mesmo superar os danos causados pela pandemia da Covid-19″, sinaliza. A CNI listou no documento Propostas para a retomada do crescimento econômico 19 ações que, se adotadas, farão o setor produtivo voltar a se desenvolver e gerar empregos.”
“As medidas emergenciais adotadas pelo governo e o Congresso Nacional foram essenciais para a retomada da economia. No entanto, empresas, famílias e governos estão saindo da crise bastante fragilizados, de modo que a transição para o crescimento sustentado se apresenta como mais um desafio. As ações propostas representam uma cartilha de forma estruturada e objetiva para o Brasil acelerar o desenvolvimento econômico e social, gerar emprego e renda”, comentou o presidente da CNI em evento organizado em parceria com o Poder360 em setembro.
Dentre as reformas estruturais necessárias para o avanço da economia, Robson Braga de Andrade destaca a reforma tributária. Aliada a burocracia excessiva e gargalos de logística, a tributação alta e complexa a que as empresas brasileiras são submetidas coloca o mercado nacional em um jogo de desvantagem na comparação com países desenvolvidos. É o chamado Custo Brasil.
A redução do Custo Brasil sempre foi uma das principais bandeiras da CNI. Para o presidente da instituição, o tema é crucial para o crescimento e desenvolvimento econômico do país, uma vez que a redução deste custo impulsionaria a retomada da atividade econômica, do emprego e da renda.
Para quantificar a influência do Custo Brasil no campo da competitividade global, o Ministério da Economia encomendou um estudo ao Movimento Brasil Competitivo e associações do setor produtivo. A pesquisa, inédita, comparou o Brasil com membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e estimou que a desvantagem é de R$ 1,5 trilhão, que corresponde ao que é pago a mais pelas empresas brasileiras para realizarem negócios. Esse valor representa 22% do PIB, que é a soma de todas as riquezas produzidas no país.
Mais emprego
Alguns setores comemoraram o aumento de vagas de emprego no mês de agosto. O Brasil abriu 249.388 vagas de emprego com carteira assinada, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados em 30 de setembro pelo Ministério da Economia. É o 2º mês seguido de saldo positivo, depois dos mais de 131 mil postos de trabalho formais criados em julho. Porém, em 2020, o saldo ainda é negativo: nos 8 primeiros meses do ano, foram perdidos 849.387 empregos.
O presidente da Abinee, Humberto Barbato, atribui o aumento dos postos de trabalho às medidas que foram tomadas pelo governo, como a MP 936 que, segundo ele, flexibilizou a relação de trabalho e possibilitou que não houvesse um nível maior de desemprego. Além disso, Barbato informa que o setor eletroeletrônico festejou, no mês de agosto, o fato de ter recuperado todos os postos de emprego perdidos entre março e abril.
“Já voltamos os níveis de emprego que tínhamos antes da pandemia. Atribuo isso, por exemplo, àquelas fábricas que tiveram que reduzir turnos de trabalho. Com a reposição dos estoques do varejo, elas estão sendo demandadas e estão repondo trabalhadores. Aquelas que trabalhavam com três turnos de trabalho e passaram a ter dois turnos, não tiveram a opção de apenas fazer redução de jornada. Elas tiveram que demitir. As que demitiram estão readmitindo e isso tem feito que a gente recupere os empregos, voltando aos níveis pré-pandemia”, esclarece Barbato.