Com o agravamento da pandemia de Covid-19, que lotou hospitais e gerou no Brasil, na última terça-feira (dia 23), o dia mais letal da série histórica, com 3.251 mortes pela doença, a dura batalha enfrentada por toda sociedade e, em especial, pelos profissionais da saúde ficou ainda mais dramática.

Médicos, enfermeiros, recepcionistas e outros trabalhadores da área da saúde, sejam eles da rede pública ou privada, estão se desdobrando há mais de um ano na tentativa de salvar vidas e manter à disposição dos usuários um serviço de qualidade. Em Volta Redonda, que na sexta (dia 26) registrava 525 mortes, conforme registro do Painel Coronavírus, da secretaria de Estado de Saúde, a situação dos profissionais da saúde não é diferente da vista por todo país.

Exaustões física e mental, acompanhadas de falta de estrutura para um bom atendimento básico nos postos de saúde são duas das maiores dificuldades enfrentadas pelos componentes da linha de frente de enfrentamento à doença. Na Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro Vila Brasília, em Volta Redonda, por exemplo, os servidores precisam superar outro obstáculo: a falta de estrutura.

Em relato à Folha do Aço, atuais e ex-servidores detalham os problemas vivenciados nas últimas semanas pela equipe da unidade. “Está faltando tudo”, afirmou. As críticas vão de falta de treinamento para procedimentos como exame Swab, utilizado no diagnóstico da Covid-19, a escassez de máscaras de proteção e produtos para limpeza e sanitização.”Agora os postos de saúde farão teste para Covid em pacientes com suspeita da doença. No posto [da Vila Brasília] não temos nem recepcionista. Os recepcionistas são os agentes de saúde [ACS]. Faltam enfermeiros e médicos, como vai dar uma autonomia na testagem para o posto de saúde dessa forma?”, relatou uma ex-funcionária.

Salvador da pátria

O prefeito Neto (DEM) utilizou o seu já conhecido discurso de “salvador da pátria” durante a campanha eleitoral. Ao ser empossado para mais quatro anos à frente do Palácio 17 de Julho, ele declarou que a saúde seria uma de suas prioridades.

O discurso de campanha garantia que a administração municipal priorizaria às UBS’s, a fim de desafogar os hospitais públicos São João Batista e do Retiro duramente castigados pela pandemia. Na prática, passados três meses de governo, as palavras não estão se sustentando.

“Aqui não tem espaço. Estão fazendo testes para o coronavírus em uma sala que nunca terminou de passar por reformas, foi apenas embolsada, e por técnicos de enfermagem, não enfermeiros. Não tem funcionário. Muita gente não sabe nem fazer Swab. É muito ruim não poder falar, porque eles [prefeitura] postam nas redes sociais que as unidades estão preparadas. Mentira, não estão preparadas”, desabafou uma funcionária.

Na última quarta-feira (dia 17), a prefeitura divulgou que diversas UBSF’s, incluindo a da Vila Brasília, estariam aptas a atender pacientes com suspeita do novo coronavírus. O posto, bem como outras unidades, está funcionando em novo horário, das 7h às 19h. No comunicado, o Executivo afirmou que “as unidades para Covid-19 estão preparadas para atender de forma segura tanto os pacientes com suspeita da doença quanto os demais”.

Entretanto, a administração do Palácio 17 de Julho parece ignorar um ponto importante: a manutenção de um padrão de segurança alto. Isso porque, de acordo com outra funcionária ouvida pela reportagem, não há no almoxarifado produtos básicos de sanitização para a sala, que além dos testes, é destinada ao atendimento de mulheres grávidas, idosos e para a aplicação da vacina BCG, que previne tuberculose e meningite em recém-nascidos.

“Agora que vamos ver o circo pegar fogo. Em um mesmo recinto, pacientes de risco e casos suspeitos de Covid-19. Se a gente não pegou a doença antes, agora pegamos. Mesmo com a vacina não estamos imunes de pegar. Eu sei que está uma zona. Estou exausta. Nós mostramos o estado da sala para pessoas da prefeitura e mesmo assim os testes foram mandados para cá”, finalizou o desabafo.

O outro lado

Procurada pela reportagem, a secretaria de Comunicação da Prefeitura de Volta Redonda não respondeu o contato da Folha do Aço.

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