Nos primeiros meses de 2020, o Brasil começava a lidar com os perigos da Covid-19. Em março, grande parte do país adotou um “lockdown”: comércios fecharam as portas, algumas empresas aderiram ao home office, empregos foram perdidos. No mesmo período, o país começou a ver o número de infecções, internações e mortes causadas pelo coronavírus subiram assustadoramente.

Em abril, o vírus já era uma realidade no cotidiano dos brasileiros, fazendo com que as pessoas evitassem ao máximo sair de casa. Com o isolamento forçado, os números de roubos e de outros crimes acabaram caindo em todo o estado do Rio de Janeiro, dado que foi comemorado pelas autoridades. Apesar de o Brasil continuar vivendo num contexto de pandemia, que para muitos ainda não atingiu seu pior momento, os índices de isolamento caíram, seja pela aplicação das vacinas, que trouxeram uma falsa sensação de segurança, ou pela necessidade de trabalhar, fazendo com que o Rio voltasse a sua triste convivência com a criminalidade.

De acordo com o mais recente levantamento publicado pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), em abril deste ano, o Estado registrou um aumento de 23% no total de roubos quando comparado ao mesmo mês do ano passado. Foram 7.893 em 2020 contra 9.721 neste ano. Para se chegar ao total de roubos, somam-se, por exemplo, os números de roubos de celular, a pedestres, veículos, assaltos a comércios e residências, e roubo em transportes públicos. No Sul Fluminense, o aumento foi maior que a média estadual. Em abril de 2020, somados todos os 20 municípios da chamada 5ª Região Integrada de Segurança Pública (Risp), foram 75 roubos. Já em abril deste ano, foram contabilizadas 113 ocorrências desse tipo, um aumento de 50,7%.

O tipo de roubo que lidera a estatística são os chamados “de rua”, que incluem os roubos a pedestres, em coletivos e de aparelhos celulares. Neste tipo, a região teve um total de 48 ocorrências distintas em abril, representando um aumento de 21% em relação aos 38 obtidos no mesmo mês do ano passado. Em segundo lugar, de acordo com o ISP, estão os roubos a estabelecimentos comerciais, que tiveram o maior aumento percentual. Só em abril deste ano foram 23 comércios assaltados no Sul Fluminense, um aumento de 73% em relação aos seis roubos desta espécie ocorridos em abril de 2020.

Outro dado surpreendente é com relação aos roubos de carga, uma ocorrência que não costuma ser tão vista no Sul do Estado. Foram seis cargas roubadas em abril de 2021 contra duas no mesmo período de 2020.

Especialistas atribuem a alta nos índices de roubo não só a queda no isolamento social, mas a outros aspectos, como a crise econômica e a disputa de facções criminosas. O advogado criminalista Rafael Medina, doutor em direito penal pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), acredita que a cada vez mais intensa disputa por território entre facções, além das mudanças na abordagem e combate a criminalidade por parte da polícia em decorrência do isolamento, podem ajudar a explicar a alta nas taxas de roubo.

“É indiscutível que a flexibilização faz parte disso, mas não é somente por ela. São dados de várias regiões, com problemas diferentes. Tem áreas mencionadas que, se quer, respeitam o isolamento. É preciso olhar para as disputas territoriais, para as alterações no modelo de atuação por causa da pandemia e até trocas no Executivo, que também reflete nesse modelo”, exemplifica o advogado.

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