“Acredito que hoje vou chocar alguns familiares e amigos em estar abrindo meu coração dessa forma e compartilhando com vocês um momento que estou passando. Fui diagnosticada com câncer de mama. É uma doença sim, de estatística alta, de risco de vida, mas que é muito possível. E quanto antes você encarar o diagnóstico fica mais fácil o tratamento e a cura”. Essa foi a primeira postagem de Rany Ramos Alves em suas redes sociais após ser diagnosticada com câncer de mama.
A publicação foi ao ar em 8 de abril de 2021, Dia Mundial de Combate ao Câncer. E o que parecia ser um desabafo isolado, se tornou ponto de partida para uma série de depoimentos sobre a doença, sentimentos e experiências compartilhadas por Rany, de 46 anos, no mundo virtual.
Moradora de Volta Redonda e hoje afastada pelo INSS, Rany divide a rotina de uma mulher casada e mãe de dois filhos – Micaell, de 28 anos, e Anike, de 14 – com os relatos quase que diários em seu Instagram. São postagens diversas, sempre dinâmicas, que explicam detalhes sobre o tratamento e atraem, dia a dia, novos seguidores interessados no assunto.
Foi em janeiro do ano passado que a então revendedora de cosméticos descobriu o câncer. Com os exames todos em dia, ela acredita que o tumor tenha ficado, por tempos, escondido na prótese de silicone e, por isso, não aparecia nos laudos. “Sentia muita dor no ombro e acreditava ser em razão de carregar mala com produtos que vendia. O corpo fala e ele estava me mostrando que tinha alguma coisa ali que não fazia parte dele. Fui para a frente do espelho e comecei a fazer o autoexame. Quando levantei meu braço direito, a minha mama se dividiu. O tumor estava tão grande que foi para cima e minha prótese desceu, me fazendo acreditar que ela havia estourado. Ali começou toda a correria, fui a vários profissionais, fiz inúmeros exames, até o diagnóstico final. Passei por mastologista, biopsia, mamografia e ressonância. Não é só descobrir o câncer, mas saber o tipo, a categoria e o sobrenome para montar o tratamento específico”, explica.
Rany Alves enumera as ações necessárias: “Coloquei cateter, fiz 16 sessões de quimioterapia, mastectomia radical, esvaziamento axilar e mais 25 sessões de radioterapia”. Uma luta que, acredita, sem as redes sociais, seria bem mais árdua.
Com mais de três mil seguidores no Instagram, a vendedora acredita na importância de se falar sobre o câncer, exames e cuidados, sem ser apenas em meses específicos de campanha. “Por isso passei a gravar vídeos no Instagram e consegui gerar movimento. Hoje há muita gente me procurando, tenho recebido mensagens de pessoas de outros estados perguntando, pedindo informações, querendo uma palavra. Cada vez mais noto a importância desses movimentos e, com isso, cresce no meu coração a vontade de gravar, falar, relatar e, assim, atingir mais pessoas”, comenta Rany, acrescentando que, com o compartilhamento nas redes sociais, os benefícios são para todos, tanto para quem passa informação como para aqueles que a recebem.
Suporte de seguidores
O câncer é um problema de saúde pública e a rede social serve como importante ferramenta de apoio e suporte a pacientes que enfrentam a doença. Para a psicóloga Cristina Gomes, essa rede de apoio pode sim melhorar qualitativamente o enfrentamento emocional após a descoberta de qualquer enfermidade.
“Essa interação faz com que esses pacientes se sintam menos solitários, dividam suas angústias e encontrem apoio não só de quem passou/passa pela mesma situação como de outros que se interessam pela causa. É sair de uma posição passiva diante da doença e se tornar canal de informação, de diálogo e de ajuda mútua, auxiliando também outras pessoas que lidam com a doença e seus tratamentos”, destaca a profissional.
Dois dos momentos mais especiais na trajetória de Rany também foram compartilhados com seus seguidores. Um deles, no dia 22 de julho de 2021, data em que realizou sua última quimioterapia, e outro, no dia 3 de dezembro do mesmo ano, quando anunciou o fim das sessões de radioterapia.
“A Deus, aos meus familiares e amigos, agradeço todos os dias! Foram sessões concluídas com sucesso! Meu agradecimento a equipe pelo profissionalismo e pelo atendimento humanitário! Agradeço por amarem a minha vida e vibrarem pela minha cura!”.
À Folha do Aço, Rany comentou que fez um diário, com todas as datas de cada obstáculo e cada vitória, que pretende transformar em livro.
Outra situação que também alcançou engajamento e gerou dezenas de mensagens privadas para Rany foi quando raspou o cabelo, em 19 de junho de 2021. E, para responder os inúmeros comentários de apoio, definiu: “O meu processo de aceitação demorou quatro meses. Aprender a enxergar além dos olhos físicos é para poucos. Posso garantir que é delicioso e libertador”.
Câncer de Mama
O câncer de mama é o tipo de tumor mais frequente em mulheres no Brasil e no mundo todo, correspondendo a 28% dos novos casos de câncer. As causas podem estar associadas a fatores comportamentais, reprodutores, hormonais ou genéticos. A prevenção para este tipo de câncer começa com o autoexame, uma medida que a mulher deve aderir mensalmente a partir dos 20 anos de idade, com o simples hábito de apalpar as mamas. Além do autoexame, mulheres com mais de 50 anos devem realizar mamografia de rastreamento, mesmo sem perceber nenhum sinal. Esse é o único exame que permite descobrir o tumor em sua fase inicial, cuja probabilidade de cura é de 95%.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), para cada ano do triênio 2020-2022 a estimativa é de 66.280 novos casos de câncer de mama no país. O risco estimado é de 61,61 casos por 100 mil mulheres. Segundo relatório recente da Organização Mundial da Saúde (OMS), o câncer de mama superou o de pulmão e se tornou o câncer mais comum do mundo.