“Vai chegar um momento em que não terá mais ninguém. Por conta da insegurança e da falta de clareza, os estudantes estão indo para outras universidades que os acolhem de forma tranquila. A gente não está falando de uma formação ou apenas de um diploma. A gente está falando de sonhos. Sonhos construídos com a família, com os amigos, com as pessoas que acreditam no potencial de cada um. São histórias de vida, muitas vezes de superação, de aprendizado e de formação de novos cidadãos. É lamentável o que estamos passando”.
O desabafo é de Harrison Nebot Torres Baptista, aluno do último período de Comunicação Social no Centro Universitário de Barra Mansa (UBM). O corpo docente da instituição de ensino está em greve desde 1º de agosto, por conta do atraso de pagamentos, 13º salário e férias da categoria. Apesar de favoráveis à reivindicação dos professores, os alunos temem que a situação afete o cronograma letivo e adie o sonho da tão esperada formatura.
“A tensão é muito grande, a tristeza também, especialmente para nós que estamos no último ano. O UBM é um patrimônio da cidade e do Sul Fluminense, uma universidade que tem história, com cursos de extrema relevância para a nossa região. É lamentável que uma instituição deste tamanho ainda não tenha tido um pronunciamento, uma fala transparente com os alunos a respeito do que irá acontecer daqui para frente, se há possibilidade de uma negociação, quando as aulas vão retornar, se vão retornar, e quais as estimativas em relação à conclusão dos cursos”, desabafa o rapaz, que, teoricamente, se forma em dezembro deste ano.
“Estou extremamente preocupado. Sabemos do momento caótico do país, onde as coisas não estão fáceis nem para pessoas físicas, nem para jurídicas. Mas a gente está confiante de que o UBM vai conseguir, de alguma forma, resolver essa questão financeira junto aos funcionários e professores, que tanto já fizeram por nós. A gente veio de uma pandemia que devastou a saúde mental de todo mundo e agora mais uma preocupação: será que conseguiremos receber nossos diplomas no fim do ano? Será que teremos portas abertas para nos receber ainda neste semestre?”, questiona o universitário.
Harrison lembra ainda que sua turma já havia organizado todo o calendário acadêmico com os festejos finais de formatura. “Já fizemos fotos para o álbum, para o convite, contrato, tudo já pré-determinado e fomos pegos de surpresa com a possibilidade de não receber o diploma neste fim de caminho”.
Thalyta Pinheiro Soares, de 23 anos, também está no último período do curso de Jornalismo e, segundo ela, o momento que era para ser emocionante está sendo ‘frustrante’. “Estou com todas as minhas mensalidades em dia, não tenho nenhum atraso, não devo a faculdade e, simplesmente, o UBM não dá um posicionamento. Só promessas que nunca são cumpridas. E nós, alunos, estamos sendo prejudicados. Tem professor que só depende desse salário, assim como inúmeros funcionários. Está todo mundo sendo prejudicado e eu fico me perguntando: onde estão os donos do UBM? Será que estão em casa rindo da nossa cara?”, questiona a estudante em tom de revolta.
“Planejamos a nossa colação, a festa, tudo para comemorar a conclusão da faculdade, porque não é fácil. E aí quando chega no final do período a gente recebe essa notícia? É frustrante”, continua Thalyta também preocupada com a entrega do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). “Qual o prazo que a gente vai ter para entregar? Quando? E se voltar”.
Uma comissão composta por professores e demais membros da comunidade acadêmica do tradicional centro universitário divulgou, recentemente, uma nota de repúdio contra a direção da instituição. “Nos últimos tempos, nós professores e demais componentes da comunidade acadêmica do UBM estamos vivenciando graves violações em nossos direitos trabalhistas. (…) No último semestre letivo, fomos compelidos a aceitar o silêncio e a falta de transparência dos dirigentes. Fomos enganados com promessas falsas de depósito de salários. Fomos cobrados e realizamos diversas atividades acadêmicas e laborais sem questionar, tudo em prol do corpo discente desta instituição de ensino, sem que a obrigação de nos remunerar fosse efetivada”, diz a nota.
Segundo o grupo, a instituição de ensino foi procurada para a construção do diálogo, porém sem sucesso. “É prática comum do UBM atrasar e parcelar o pagamento dos salários de seus empregados com longos e costumeiros atrasos, como se estes não dependessem daqueles para sobreviver e para trabalhar, com dignidade. E o que é pior: o atraso no pagamento dos salários não é a única nefasta conduta ilegal de tal empresa. Não satisfeita, não recolhe as contribuições previdenciárias”, acusa.
O comunicado da categoria prosseguiu: “Estamos cansados, sem condições financeiras e exauridos emocionalmente para manter a nossa conduta honesta, ética e primordial de ministrar aulas e trabalhar, sem que haja a contrapartida obrigatória do UBM (…) O pagamento dos salários é um direito fundamental de todos os trabalhadores. O salário é o meio de sobrevivência do seu professor e demais componentes da comunidade acadêmica. O atraso salarial reiterado provoca transtornos desnecessários e vexatórios. Isso é inconstitucional, desumano e vergonhoso! Muitos professores e funcionários estão impossibilitados de honrar seus compromissos financeiros. O UBM sabe disso e nada faz!”.
A comissão criou uma petição online, onde solicita o apoio de todos na expectativa de uma construção amigável e coletiva. O abaixo-assinado já conta com mais de 950 assinaturas.
Posição do Sinpro
De acordo com o diretor jurídico do Sindicato dos Professores do Sul Fluminense (Sinpro-SF), João Dalboni, são aproximadamente 210 professores que dependem do UBM para honrar seus compromissos. O sindicalista explicou à Folha do Aço que os problemas de atrasos nos pagamentos começaram em 2016 e que foram persistindo pelos anos seguintes.
“Em 2022, o primeiro atraso ocorreu em abril e logo acumulou-se dois meses sem pagamentos. Negociamos com a instituição e eles começaram a pagar parcelado. Porém, gerou-se outro acúmulo e chegamos agora a cinco meses”, ressalta Dalboni.
Nesse período, segundo o Sindicato, foram feitas assembleias, deflagrada a greve, além de diversas mesas redondas com o Ministério Público do Trabalho. “Como foram feitas diversas promessas e nenhuma cumprida, a categoria começou a exigir o retorno das atividades só com o pagamento de pelo menos a metade dos atrasos”, lembra o representante da categoria.
Apesar do desgaste, o diretor do Sinpro diz acreditar que a situação esteja próxima do fim. No último dia 29, houve uma audiência de conciliação e, na ocasião, o UBM se comprometeu a pagar três meses de salários – referentes às folhas de abril, maio e junho – até o próximo dia 5 de setembro.
“Caso seja feito, o retorno da categoria será imediato. Estamos em greve, mas como foi uma proposta feita na Justiça do Trabalho, com a presença de procuradores, juiz, além de três sócios do UBM, entendemos que dá para dar esse voto de confiança. Não foi uma negociação entre o Sinpro e a instituição, mas sim na Justiça, com autoridades e representantes da universidade. Então, temos que acreditar, pois é o que pede o bom senso”.
Nota da redação: A reportagem tentou um posicionamento da UBM, mas não conseguiu contato em nenhum dos canais de comunicação da instituição.
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