Educação de VR contrata empresa de tecnologia por R$ 16,7 milhões enquanto escolas seguem sem uniformes e professores sem piso salarial

Enquanto enfrenta críticas por não entregar uniformes a parte dos alunos da rede municipal e por ainda não ter aplicado o Piso Nacional do Magistério aos professores, a Prefeitura de Volta Redonda decidiu investir pesado em tecnologia. Por meio do contrato nº 337/2025, a secretaria municipal de Educação (SME) firmou, no início de outubro, um acordo de R$ 16,7 milhões com a empresa 7LAN Comércio e Serviços, sediada em Maricá (RJ).

A contratada é especializada em infraestrutura tecnológica, responsável pela elaboração de projetos executivos, fornecimento, instalação, manutenção e desinstalação de redes lógicas metálicas, ópticas e sem fio em unidades escolares e prédios administrativos da Educação. O contrato, com vigência de um ano, entrou em vigor no último dia 6 de outubro.

O alto investimento ocorre em meio a uma série de reclamações de professores e pais de alunos sobre a política educacional do governo do prefeito Neto (PP). “É revoltante ver milhões sendo gastos com cabos e roteadores enquanto nossos alunos seguem sem uniforme e os professores, sem o reajuste garantido por lei”, desabafou uma professora da rede municipal, que preferiu não se identificar.

Um pai de aluna do Colégio Profª Themis de Almeida Vieira, no bairro Conforto, também criticou as prioridades da administração: “A gente não é contra investir em tecnologia, mas como falar em rede moderna se as crianças ainda não receberam uniforme e a estrutura do colégio não é reparada há anos?”.

O que diz a PMVR

De acordo com os documentos oficiais que embasaram a contratação, o investimento é justificado pela “necessidade de modernizar e aprimorar a infraestrutura tecnológica” das escolas municipais. O termo de referência argumenta que a melhoria das redes é essencial para garantir o funcionamento de equipamentos já adquiridos pela Prefeitura, como Chromebooks, Smart TVs e computadores.

A secretaria de Educação afirma que a falta de uma infraestrutura de rede eficiente “compromete o uso pleno dos recursos tecnológicos e das plataformas digitais de ensino”, e que o contrato permitirá “garantir a conectividade ininterrupta em todos os espaços das unidades escolares”.

Valores e justificativas

Embora o valor final do contrato tenha sido fixado em R$ 16,7 milhões, o estudo técnico que embasou a licitação previa uma estimativa superior, de R$ 26,3 milhões. A contratação foi realizada por lote único, sem parcelamento, sob o argumento de que todos os serviços e materiais, como racks, switches, roteadores e cabos ópticos, precisam ser integrados por uma única empresa, garantindo “padronização e eficiência” no sistema.

O Palácio 17 de Julho também defende o uso do Sistema de Registro de Preços (SRP), que permite contratações escalonadas conforme a demanda, sem necessidade de empenhar o valor total de imediato.

Digital x realidade

Apesar do discurso de modernização, o cenário nas escolas da rede municipal segue distante do ideal. Professores reclamam da falta de estrutura básica, como ventiladores, iluminação adequada e manutenção predial. Em várias unidades, os Chromebooks distribuídos no ano passado seguem guardados por falta de rede Wi-Fi estável.

“A gente entende que investir em tecnologia é importante, mas não dá pra pular etapas. Antes de falar em conectividade, a Prefeitura precisa garantir o básico: condições de trabalho e valorização dos profissionais”, afirmou outro docente ouvido pela reportagem.

Contexto político

A decisão da Secretaria de Educação de priorizar investimentos em tecnologia ocorre em um momento de forte cobrança sobre a gestão Neto, especialmente na área educacional. Em 2024, o município foi alvo de críticas de sindicatos (Sepe e Sinpro) e conselhos escolares pela ausência de reajuste salarial aos professores, que reivindicam a aplicação integral do Piso Nacional do Magistério e do Plano de Cargos, Carreiras e Salários (PCCS), estabelecidos por lei federal.           Além disso, o atraso na entrega dos uniformes escolares tem gerado reclamações de pais desde o início do segundo semestre. A Prefeitura atribui os atrasos a “problemas com fornecedores”.

Empresa contratada

A 7LAN Comércio e Serviços, responsável pelo contrato milionário, tem sede em Maricá, na Região Metropolitana do Rio, e atua no setor de infraestrutura de tecnologia da informação. Entre os serviços previstos no acordo com a Secretaria de Educação estão a instalação e manutenção de redes ópticas e metálicas, cabeamento estruturado, substituição de sistemas obsoletos, configuração de equipamentos e manutenção preventiva.

A empresa também será responsável pelo descarte ambientalmente correto dos equipamentos substituídos, conforme determinações técnicas do termo de referência.

Promessa de conectividade

Segundo o planejamento apresentado pelo governo municipal, a meta é garantir que todas as unidades escolares da rede municipal tenham cobertura completa de internet e suporte técnico contínuo. A expectativa é que a rede modernizada permita o uso pleno das ferramentas digitais no ensino e melhore a comunicação administrativa entre as escolas e a Secretaria de Educação.

Ainda assim, entre pais e professores, o ceticismo prevalece. “A gente ouve promessas de modernização há anos, mas o que vemos é o básico faltar. Parece que a prioridade é o que dá manchete, não o que muda a realidade dentro da sala de aula”, disse uma mãe de aluno da E.M. Espírito Santo, no Santo Agostinho.

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