A baixa cobertura vacinal contra a influenza em Volta Redonda e Barra Mansa acendeu um alerta entre autoridades de saúde e especialistas. Dados do Ministério da Saúde mostram que nenhum dos dois municípios alcançou índices considerados seguros para proteger os grupos prioritários, idosos, gestantes e crianças de 6 meses a menores de 6 anos. O cenário se repete em todo o estado do Rio de Janeiro.
Em Volta Redonda, a vacinação entre idosos atingiu 61,96%. Entre gestantes, o índice caiu para apenas 12,12%, enquanto a cobertura entre crianças ficou em 45,53%. No total, o município aplicou 44.425 doses, o equivalente a 57,43% do público estimado. Em Barra Mansa, os percentuais também ficaram abaixo do ideal: 51,75% entre idosos, 45,65% entre gestantes e 39,11% entre crianças pequenas. Ao todo, foram aplicadas 23.702 doses, 48,91% de cobertura.
A pediatra Thaís Ferraz, do H.FOA, afirma que o impacto da baixa adesão já é perceptível na rede de saúde. “A baixa adesão à vacinação contra a influenza, que permanece nos grupos prioritários com apenas 52,95%, tem gerado uma alta de casos de gripes atípicas para esta época do ano. A gripe é frequentemente subestimada, mas pode evoluir para quadros graves, principalmente nesses grupos mais vulneráveis”, explica. A especialista reforça que o próprio Ministério da Saúde alerta que a vacinação é essencial para reduzir hospitalizações e óbitos por influenza.
O quadro regional está alinhado ao que ocorre em todo o estado. Segundo a Secretaria de Estado de Saúde, a cobertura no Rio de Janeiro é de apenas 40,55%, muito distante da meta de 90%. A secretária estadual de Saúde, Claudia Mello, já havia alertado para o risco de agravamento da situação: até o início de dezembro, o estado registrou mais de 20 mil internações e 1.654 óbitos por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).
A médica Thaís Ferraz explica que as razões para a queda misturam fatores sociais, estruturais e comunicacionais. “A diminuição na cobertura vacinal é multifacetada, sendo impulsionada principalmente pela desinformação e por problemas estruturais no acesso aos serviços de saúde. Estratégias eficazes para aumentar a adesão envolvem a melhoria da comunicação em saúde pública e a facilitação do acesso da população de baixa renda aos postos de saúde.” Para a pediatra, fake news também têm influência significativa. “Fatores como notícias falsas nas mídias criam dúvidas e geram insegurança sobre a eficácia da vacina. Avanços de grupos antivacinas contribuem para a resistência aos programas de imunização. Vale lembrar que o SUS é o sistema de saúde que mais oferece vacinas no mundo”, destaca.
Ela aponta ainda obstáculos práticos enfrentados por parte da população. “Horários de funcionamento limitados das unidades de saúde, longas filas, falta de insumos e a necessidade de comprovação de residência criam obstáculos para quem precisa se vacinar”, lista Ferraz. A especialista alerta que a queda na cobertura representa um risco real: “A queda na cobertura vacinal aumenta de forma real o risco de doenças já controladas ou eliminadas, como sarampo, paralisia infantil (poliomielite) e coqueluche. Isso não é apenas uma possibilidade teórica: países e estados brasileiros já enfrentam surtos exatamente por causa dessa redução.”
A prefeitura de Volta Redonda, procurada pela reportagem por meio da Secretaria Municipal de Comunicação, não respondeu até o fechamento desta edição.
BM atribui baixa procura à percepção reduzida de risco e anuncia intensificação das ações
Em nota enviada à reportagem, a Secretaria Municipal de Saúde de Barra Mansa afirmou que identificou múltiplos fatores para a baixa adesão registrada neste ano. De acordo com o município, a queda está relacionada a uma “menor percepção de risco em relação à influenza”, à “circulação de informações inconsistentes que geram insegurança vacinal” e à “baixa procura espontânea dos grupos prioritários, especialmente gestantes, crianças e idosos”.
A pasta também citou o “clima epidemiológico mais ameno no início da campanha, diminuindo a sensação de urgência da vacinação”. A secretaria afirmou ter intensificado as estratégias para elevar os índices. “O município ampliou horários e equipes, realizou mutirões e ações extramuro em escolas, creches, empresas e locais de grande fluxo”, informou.
A nota cita ainda a busca ativa conduzida pela Atenção Primária. “As equipes têm identificado gestantes, crianças e idosos com esquemas pendentes”, explica o texto, que também menciona parcerias com maternidades e serviços de pré-natal. O município disse ainda manter a vacinação domiciliar para idosos com dificuldade de locomoção e ações de enfrentamento à desinformação.
A Prefeitura também garantiu que não houve falhas de oferta. “Não houve falta de doses nem problemas logísticos durante a campanha. O abastecimento se manteve regular”, diz a nota. Sobre a possibilidade de melhorar os índices, a SMS afirmou que considera possível ampliar a cobertura, mas ponderou que o atingimento da meta depende diretamente da adesão dos grupos prioritários. “A vacina está disponível em todas as unidades de saúde do município”, destacou. A nota encerra afirmando que a prefeitura mantém “monitoramento diário dos indicadores e ajustes contínuos das ações conforme necessário” para prevenir casos graves de influenza.
Foto: Divulgação











































