Os funcionários da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) passarão o 1º de maio – Dia do Trabalho – sem receber os 22% de reajuste salarial, conforme proposta sugerida pelo Sindicato dos Metalúrgicos. Também não terão à disposição na conta bancária o valor referente à PLR.
A verdade é que a pauta de reivindicações para a renovação do acordo coletivo 2023-2024 somente começará a ser debatida com a CSN nesta sexta-feira (dia 28). Um sinal positivo para um acordo parece distante.
A direção da empresa demonstra incômodo com o modelo apresentado, com pauta unificada composta de cinco categorias. Tanto é que na primeira tentativa de abertura de negociação, os representantes dos sindicatos dos trabalhadores vinculadas à Companhia sequer foram recebidos no escritório da empresa, em São Paulo.
Os percentuais sugeridos pelos sindicalistas provocaram desconforto na direção da CSN. Benjamin Steinbruch e seus subordinados diretos preferem medir a temperatura à distância, até então sem abrir nenhum canal de conversa.
O Ministério Público do Trabalho (MPT-RJ) de Volta Redonda precisou entrar no circuito. Uma reunião administrativa foi marcada para esta sexta-feira (dia 28) com as partes envolvidas. A rodada de negociação está agendada para as 13h30min e será realizada por meio da plataforma digital Teams, ou seja, de forma virtual.
Tentativa
Representantes dos sindicatos dos Metalúrgicos, Engenheiros (Senge-VR), Metabase de Congonhas-MG, dos Vigilantes de Volta Redonda e dos Portuários do Rio tentarão negociar os itens da proposta unificada. A pedida dos trabalhadores é de reajuste salarial calculado pelo INPC pleno, no período anual, mais o ganho real. Neste caso, a recomposição das perdas dos últimos seis anos, somaria o total de 22%.
Os sindicalistas sonham também com um piso de dois salários mínimos (aos Metalúrgicos) e de 8,5 para os engenheiros. Já o cartão alimentação defendido é no valor de R$ 1 mil, com direito a todos os trabalhadores ativos, bem como para os afastados.
“Vamos forçar que a CSN venha para a mesa de negociação unificada, com os sindicatos. Não pode ser que a empresa finja que nada está acontecendo, se fingindo de boba! Não vamos aceitar tamanho descaso”, consta no m boletim da campanha unificada. A intenção, segundo os representantes dos sindicatos, é “forçar” a participação da empresa na mesa de negociação da forma como aprovado pelos trabalhadores, com uma pauta unificada.
Outra reivindicação diz respeito às horas extras, com adicional de 100% por horas extras trabalhadas de segunda a sábado; adicional de 200% para domingos e feriados. E que a empresa se comprometa a não exigir do trabalhador, duas horas extras diárias. A pauta reafirma a jornada de trabalho de 36 horas/semanais. Além do piso salarial de dois salários mínimos e o fim do desvio de função.
O presidente do Sindicato dos Engenheiros de Volta Redonda (Senge-VR), Fernando Jogaib, analisa que a campanha salarial não é importante apenas para o trabalhador, mas para a sociedade. “Se você tem uma empresa com mais de 12 mil funcionários, o ganho deles interfere diretamente no comércio e na cidade”, afirmou.
Jogaib também comentou sobre a pauta conjunta envolvendo cinco categorias. “A campanha unificada é muito melhor para todas as categorias, conseguiremos ir para a mesa de negociação com mais força para reivindicar um acordo justo, com um reajuste que contemple as perdas dos últimos anos e mais o ganho real. Se a CSN não quer negociar com diálogo e respeito, vamos tentar, como fizemos, mediação junto ao MPT, dentro da legalidade, que a empresa negocie. Com o trabalhador bem remunerado e respeitado, o retorno para a empresa, na produção, é garantido”, observou.
Alfinetada
No mesmo boletim distribuído na última semana, os sindicalistas alfinetaram a conduta da empresa e da antiga diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos. “Enquanto em anos anteriores a CSN estendia o tapete vermelho para a antiga direção metalúrgica de Volta Redonda, que era chaveirinho da CSN, e a partir disso passava goela abaixo ataques aos trabalhadores em nível nacional, hoje, unificados todos os sindicatos, a CSN se faz de “criança mimada que não aceita a ser contrariada”, comprou.
Caso a estratégia não funcione, o boletim já dá o tom do que empresa e trabalhadores podem esperar dos sindicatos. “Desde já, temos que preparar para forçar a CSN negociar, não só a partir dos órgãos institucionais, mas, sobretudo, desde já pensar em uma mobilização juntos e misturados. Nesse sentido é fundamental a nossa união desde agora, até o final do nosso Acordo Coletivo”, ameaça.
Questionado pela Folha do Aço sobre a expectativa sobre a rodada de negociação mediada pelo MPT, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos foi econômico nas palavras. “Deus é conosco”, disse. Pelo jeito, quem vai precisar de muita oração serão os trabalhadores.
Foto: arquivo/Evandro Freitas