Com as temperaturas superando 30 graus Celsius nas últimas semanas, a situação nas escolas municipais de Volta Redonda tornou-se insustentável. O prefeito Neto (PP) prometeu em entrevista que todas as unidades da rede pública municipal estariam climatizadas em 2025, mas a realidade atual é bem diferente.

Das cerca de 100 escolas municipais, apenas 25 contam com aparelhos de ar-condicionado em funcionamento, o que tem gerado fortes críticas por parte do Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação – Núcleo Volta Redonda (Sepe-VR). O órgão sindical iniciou uma campanha chamada “Sauna de Aula Não” para pressionar a Prefeitura a resolver o problema.

O Sepe classifica a situação como crítica e reforça que deve ser tratada como prioridade. “Entendemos a gravidade das mudanças climáticas atuais, com o aumento médio da temperatura e ondas de calor intenso cada vez mais frequentes. Não é possível que as escolas mantenham estruturas de 20, 30 anos atrás, quando ainda não enfrentávamos esses problemas com tanta frequência”, destacou o sindicato em nota enviada à Folha do Aço.

O Sindicato destaca que em algumas unidades os equipamentos estão instalados desde 2021, mas não podem ser utilizados por falta de adequação elétrica. Essa realidade foi confirmada pelo vereador Raone (PSB), ex-presidente da Comissão de Educação da Câmara Municipal, que denunciou que pelo menos 10 escolas possuem aparelhos comprados e instalados, mas nunca utilizados devido a problemas elétricos.

“Fiscalizamos a escola Júlio Caruso na última quarta-feira (dia 12) e medimos a temperatura de 31,5ºC em uma das salas de aula. Até quando o Governo Municipal ficará de braços cruzados enquanto professores e alunos sofrem em salas de aula insalubres?”, questionou o vereador. Ele destacou ainda que o dinheiro público foi desperdiçado com equipamentos que nunca foram usados, enquanto a estrutura de várias escolas segue precária.

Adequação elétrica

A situação é agravada pela ausência de uma previsão concreta para a climatização de toda a rede. Em dezembro de 2024, a Prefeitura firmou o Contrato Administrativo N° 545/2024 com a empresa Ventisol da Amazônia Indústria de Aparelhos Elétricos, no valor de R$ 4 milhões, para a compra de 99 aparelhos de 12 mil BTU/h, 750 aparelhos de 22 mil BTU/h e 291 de 30 mil BTU/h. Contudo, os aparelhos não incluem a instalação, e as deficiências elétricas das unidades precisam ser resolvidas antes que possam ser colocados em funcionamento.

A secretaria Municipal de Educação informou que já iniciou a adequação elétrica em dez escolas para receber os aparelhos e prevê que a instalação esteja concluída até março. Entre as unidades contempladas estão as escolas Amaral Peixoto, Pernambuco e Dr. João Paulo Pio de Abreu, no Retiro; Bahia, no Minerlândia; Dom Waldir Calheiros de Novaes, no Roma; Dr. Júlio Caruso, no Conforto; Octacília da Silva Stockler Mendonça, na Vila Brasília; John Kennedy, na Vila Americana; Waldyr Amaral Bedê, no Santa Rita do Zarur; e Wladir de Souza Telles, no Jardim Vila Rica.

Segundo o secretário da pasta, Osvaldir Denadai, também está em andamento a contratação de uma empresa para elaborar o projeto de adequação elétrica em outras 64 escolas. “Após a elaboração do projeto, será feita a contratação da empresa responsável pela atualização da rede elétrica e instalação dos aparelhos nas demais unidades, atendendo salas de aula e setores administrativos”, explicou.

O prefeito Neto afirmou que a instalação dos aparelhos faz parte de um conjunto de ações para revitalizar as escolas e melhorar o ambiente de ensino. “Determinamos a compra dos aparelhos para garantir mais conforto. Os dias estão cada vez mais quentes e queremos oferecer melhores condições para alunos e professores”, disse ele. De acordo com a Prefeitura, a meta é beneficiar cerca de 35 mil alunos com a climatização das escolas.

Enquanto isso, o Sepe continua mobilizando a sociedade e os profissionais da educação para que medidas mais urgentes sejam adotadas. “As escolas precisam ser um ambiente adequado para o aprendizado. Não dá mais para conviver com essas temperaturas dentro de sala”, reforçou o sindicato. Para pais, professores e alunos, a expectativa é de que a promessa de climatizar toda a rede municipal se concretize antes que o próximo verão torne as salas de aula ainda mais insuportáveis.

Calor excessivo nas escolas prejudica saúde e aprendizado dos alunos, alerta especialista

Além dos danos no aprendizado, o impacto físico da exposição ao calor excessivo também é alarmante. A pediatra Thaís Junqueira alerta que o desconforto físico prejudica a capacidade de concentração e raciocínio, o que afeta diretamente a aprendizagem. 

“Um ambiente escolar climatizado, que represente conforto para o aluno, deixa-o mais disposto fisicamente e, por consequência, mais propenso a assimilar o conteúdo transmitido. A nossa capacidade de concentração, raciocínio e criatividade são beneficiadas quando nosso corpo se encontra em equilíbrio e bem-estar”, diz a médica, que é também preceptora do internato do Hospital da Fundação Oswaldo Aranha (H.FOA).

Ainda segundo Thaís Junqueira, é comum que, em temperaturas altas, os alunos se queixem de tontura, cefaleia e desânimo.

“Também é comum que esses alunos se ausentem das salas em busca de ambientes mais frescos, o que pode prejudicá-los durante as explicações. A sudorese excessiva prejudica principalmente aqueles que possuem alguma questão dermatológica, como dermatite atópica por exemplo, que é um quadro crônico marcado por coceira e eczema em pele, comumente com piora em ambientes de calor intenso. É importante, em acréscimo, que a higiene dos aparelhos utilizados para essa climatização seja adequada e regular, uma vez que interfere na qualidade do ar, podendo preencher o ambiente com ácaros, poeira e, desta forma, prejudicar a todos, em especial alunos com diagnósticos respiratórios, como asma e rinite alérgica”, complementa a pediatra.

Foto: Divulgação PMVR

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