Em março de 2020, o Estado do Rio começou a conviver com a Covid-19 e com todos os seus efeitos devastadores para sociedade e economia. No fim do ano, com o surgimento e detecção das variantes do vírus, mais letais e transmissíveis, o alerta ficou ainda maior e a segunda onda de contágios, até então tratada como uma possibilidade pela comunidade científica, se tornou real, trazendo um aumento exponencial de infectados e mortos pela doença. Já em 2021, com a ameaça até mesmo de uma terceira onda, as variantes se tornaram dominantes em todo o território fluminense, aumentando o número de óbitos e infectados de uma forma até então impensável por gestores municipais.
Com os números da doença cada vez maiores, Volta Redonda, que no começo desse ano combateu a pandemia com medidas brandas e, até mesmo, consideradas ineficazes, atingiu, na última quinta-feira (dia 17), a marca de 1004 vítimas e 31.511 infectados pela Covid-19, se juntando a outras cidades numa triste estatística: o município, que desde o começo do ano é administrado pelo prefeito Neto (DEM), é o 8º em todo o estado e o primeiro na região Sul Fluminense a superar 1000 mortes pelo coronavírus. Somente nos seis primeiros meses de 2021, foram 707 óbitos pela doença, mais que o dobro dos 298 registrados ao longo de todo o ano de 2020.
Para se ter uma ideia do tamanho da tragédia, Volta Redonda é o primeiro município abaixo dos 300 mil habitantes a chegar a 1000 vítimas fatais do coronavírus no Estado. A Cidade do Aço tem uma população estimada em pouco mais de 293 mil pessoas. Anteriormente, Petrópolis era a menor cidade no quesito habitantes a figurar nesse triste quadro. O município da Região Serrana conta com uma população de 306 mil habitantes e, no dia 11 de maio, chegou aos 1000 óbitos causados pelo vírus.
Somadas à falta de medidas efetivas de combate à doença, estão a desorganização na vacinação e a suspensão do protocolo de tratamento de casos leves de Covid-19 firmado junto a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Com a chegada das primeiras doses de vacina, o município apostou na imunização dos profissionais da saúde que atuam na linha de frente e de pessoas de idade mais avançada, como orientava o Plano Nacional de Imunização (PNI). Após essa primeira etapa e com a ampliação das faixas etárias, Volta Redonda começou a enfrentar reclamações frequentes com relação ao seu modelo de vacinação descentralizado em diversos postos de saúde. Vacinas acabavam rapidamente em algumas unidades, outras não tinham doses para atender os pacientes marcados, gerando apreensão nas pessoas com pendências em seu ciclo vacinal.
Já o protocolo de tratamento, firmado em junho de 2020 entre prefeitura e UFRJ, foi suspenso sem razão aparente. “Estive em Volta Redonda no dia 15 de janeiro para conversar com a atual secretária de Saúde, que não pôde me receber. Fui atendido pela chefe de gabinete, que me informou que não havia mais interesse do município em continuar o convênio com a UFRJ, o que é uma pena em função dos resultados que estavam sendo apresentados”, disse o médico e pesquisador Edimilson Migowski, responsável pelo convênio. O tratamento, que previa a aplicação de Nitazoxanida até o terceiro dia de sintomas, em pacientes com mais de 40 anos e comorbidade, foi considerado um sucesso pela gestão do ex-prefeito Samuca Silva. Foram 600 pacientes tratados com sucesso pelo medicamento, de acordo com dados da antiga administração.
“Medidas” de combate à Covid-19
Ao assumir a prefeitura, Neto prometeu ampliar a capacidade de atendimento e os leitos de UTI públicos em Volta Redonda. De acordo com dados do Data SUS, a cidade tem 140 leitos públicos de terapia intensiva para tratamento da Covid-19. Entretanto, de acordo com especialistas, o aumento de leitos por si só, não combate à doença e Volta Redonda é prova disso: somente neste ano, que ainda não passou de seu sexto mês, já foram 707 óbitos.
Além do aumento de leitos, o prefeito tentou implantar outras medidas de combate ao vírus, como a Patrulha pela Vida, programa em que guardas municipais orientariam a população a respeito da higienização das mãos e do uso correto de máscaras. O curioso é que os mesmos guardas que deveriam orientar e fiscalizar as medidas de prevenção, viram a torcida do Flamengo promover uma grande aglomeração, na frente do hotel que os jogadores se hospedaram quando o clube disputou uma partida do Campeonato Carioca, no Raulino de Oliveira, no dia 31 de março, período em que a cidade enfrentava um de seus piores momentos da pandemia. Um dia antes, a Justiça já havia determinado que o comércio em Volta Redonda fosse limitado aos estabelecimentos considerados “estritamente essenciais”. A determinação, no entanto, não foi cumprida, pois Neto conseguiu ajustar pontos do acordo firmado, ainda em 2020, entre Ministério Público e prefeitura.
Confira as 8 cidades que ultrapassaram as 1000 mortes no Estado do Rio
1º Rio de Janeiro – Atingiu 1000 mortes em 03/05/2020
2º São Gonçalo – Atingiu 1000 mortes em 31/12/2020
3º Duque de Caxias – Atingiu 1000 mortes em 31/01/2021
4º Nova Iguaçu – Atingiu 1000 mortes em 12/02/2021
5º Niterói – Atingiu 1000 mortes em 20/02/2021
6º Campos dos Goytacazes – Atingiu 1000 mortes em 29/04/2021
7º Petrópolis – Atingiu 1000 mortes em 11/05/2021
8º Volta Redonda – Atingiu 1000 mortes em 16/06/2021