A expectativa de todo pai e mãe, preocupados com a formação de seus filhos, é que o ambiente escolar seja um lugar onde possam buscar uma contribuição significativa na disseminação de aprendizados positivos. Um local onde valores como respeito, sociabilidade e sentido de pertencimento possam ser desenvolvidos. No entanto, nem sempre isso ocorre, e o pior é quando o que acontece dentro da escola vai contra esses princípios, especialmente quando aqueles que deveriam educar acabam dando exemplos negativos para crianças e adolescentes.
Nas últimas semanas, duas denúncias de casos de racismo em ambiente escolar foram relatados publicamente em Volta Redonda, provocando grande repercussão e acendendo o sinal de alerta na comunidade educacional da cidade. Um dos casos envolveu uma professora e estudantes do Instituto de Educação Manuel Marinho, na Vila Santa Cecília, enquanto o outro ocorreu no Colégio de Aplicação (CAP) da UGB, no bairro Aterrado, envolvendo dois alunos.
O primeiro episódio gerou uma onda de indignação e trouxe à tona a necessidade urgente de discutir questões de respeito, diversidade e educação no município. Foi justamente isso que aconteceu em Volta Redonda e mexeu com toda a comunidade escolar do município. Um caso de suposto racismo envolvendo uma professora e alunos veio à tona esta semana e gerou um amplo debate sobre o tema.
A situação ocorrida no Manuel Marinho, uma das escolas públicas mais tradicionais do município, provocou enorme repercussão e deixou perplexos pais, educadores e estudantes. De acordo com denúncias feitas por estudantes e pelo Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe), a professora proferiu falas racistas durante uma aula, onde foi confrontada após exaltar a monarquia no Brasil.
A educadora também teria feito referências elogiosas ao nazismo. Segundo os relatos, ela teria dito coisas como “a escravidão nunca existiu”, “os negros se vitimizam muito”, “os negros se vendiam”, “de acordo com a Bíblia, a escravidão deveria existir até hoje”, entre outros absurdos. Além disso, as denúncias indicam que as falas também tiveram teor de apologia ao nazismo, com a professora afirmando que Adolf Hitler “não soube executar, mas suas ideias eram boas”.
Após a divulgação do caso, a Coordenadoria de Educação do Estado no Médio Paraíba tratou de afastar a professora da escola e emitiu uma nota esclarecendo o afastamento da profissional e informando que “uma sindicância está sendo aberta para apurar a situação. Uma equipe de educadores do Núcleo de Diversidade Racial da Secretaria de Educação foi enviada à escola para prestar apoio à comunidade escolar”. Não houve divulgação da identidade da professora.
O Sepe de Volta Redonda também se pronunciou oficialmente por meio de uma nota de repúdio, destacando que “esses estudantes, que foram capazes de, apesar das dores e ofensas, se erguerem contra a injustiça e acionarem a direção da escola, a qual os acolheu e em quem confiamos que vai lidar com a situação de forma ética e responsável”. Além disso, o Sindicato informou que apresentará denúncia formal junto ao Ministério Público para que se apure criminalmente o caso. O caso também foi registrado na 93ª Delegacia de Polícia.
CAP
Nesta mesma semana, outro caso de racismo em ambiente educacional foi denunciado, dessa vez envolvendo dois alunos de uma escola particular, o Colégio de Aplicação (CAP) da UGB. A denúncia foi feita pela mãe de um aluno, que alegou que seu filho teria sido chamado de “macaco” por uma outra aluna, ambas crianças de 11 anos. A indignação da mãe, Glacy Marcolino, seria pela suposta falta de apoio e acolhimento por parte da direção da escola.
Segundo ela, o caso teria ocorrido no dia 27 de fevereiro, e desde então, ela tentava receber um acolhimento pedagógico e emocional para seu filho, mas sem sucesso.
“Com isso, ele está há 15 dias sem comer. Ele já perdeu 2 kg. E eu não estou tendo esse amparo”, relatou a mãe em um vídeo divulgado nas redes sociais.
Procurado, o Colégio de Aplicação UGB enviou uma nota oficial esclarecendo que se colocou prontamente à disposição para dar todo o suporte emocional e pedagógico ao aluno e sua família. A instituição afirmou que, por se tratar de duas crianças, promoveu “uma longa conversa conscientizadora sobre respeito, racismo e preconceitos” e que após isso, “os alunos se abraçaram e ambos disseram que continuavam sendo amigos”.
A escola também informou que outras medidas foram tomadas, como o monitoramento do aluno ofendido, garantindo sua inclusão e acolhimento, e o acompanhamento da aluna que proferiu a ofensa, garantindo que compreenda a gravidade do ocorrido e evitando novas atitudes inadequadas. Além disso, ações educativas estão sendo planejadas para toda a turma, com a disciplina “Trilha do Sentir”, abordando respeito, convivência em grupo e empatia.
O comunicado conclui reafirmando o compromisso da escola com a promoção de um ambiente escolar respeitoso e seguro para todos, repudiando qualquer ato de racismo ou preconceito e reforçando valores essenciais para uma convivência harmoniosa.