Reajuste de 33,24% para professores da rede pública está cada vez mais distante de sair do papel

Os professores da rede pública de ensino de Volta Redonda iniciaram 2022 com perspectivas de dias melhores. Afinal, depois de muitos anos, havia a sinalização de um aumento salarial, com a aplicação do piso nacional da categoria. A esperança de dias melhores não durou dois meses. Na semana passada, o prefeito Neto (DEM) afirmou que não tem recursos no orçamento para arcar com o reajuste de 33,24%.

O X da questão é a portaria assinada no último dia 4 pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), que estabelece o reajuste e passa o valor do piso dos professores das redes municipais e estaduais para R$ 3.845,63. A legalidade da portaria é questionada por prefeitos e governadores.

A Frente Nacional de Prefeitos (FNP), por exemplo, emitiu um parecer jurídico apontando que a portaria é inconstitucional e orienta que cada município poderá exercer autonomia de Ente federado quanto ao tema. “Diante da inconstitucionalidade e do chamado “vácuo normativo” relativo aos critérios para conceder o reajuste da Portaria 67/2022, prefeitas e prefeitos não estão obrigados a seguir o texto, uma vez que o ato administrativo federal não tem amparo em lei”, diz trecho do documento.

De acordo com a consultoria jurídica Ayres Britto, contratada pela FNP, cada município deverá, portanto, exercer autonomia de Ente federado, podendo optar por conceder reajuste, sob qualquer índice, de acordo com o cenário financeiro e a legislação local, respeitando os limites de despesas com pessoal impostos pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).

A alternativa indicada pela FNP é que os prefeitos reajustem o piso do magistério pelo critério legalmente seguro do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), utilizando-se a Lei 7.238/84, de forma temporária e excepcional, já que essa medida encontra amparo no artigo 4º da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro.

Sepe-VR

Enquanto a Federação discute a legalidade da portaria do governo federal, os professores da rede pública de Volta Redonda reivindicam o pagamento do piso salarial da categoria, não praticado pela prefeitura. Em nota, o Sindicato Estadual dos Professores (Sepe) rechaçou a conduta do chefe do Executivo da cidade.

“Todo esse quadro tem levado à precarização da vida dos aposentados e aposentadas. O descumprimento do PCCS, a falta de reajuste e descumprimento da lei do piso atingem de forma ainda mais cruel aqueles e aquelas que se dedicaram tantos anos à educação”, reagiu a entidade. “Da mesma forma, os funcionários da educação continuam sofrendo com as escolhas políticas desse prefeito, que simplesmente resolveu não aplicar o reajuste do salário mínimo ao salário base deste setor”.

No entendimento do Sepe, há recursos do Fundo que devem ser usados para a valorização profissional. “O dinheiro do fundo distribuído para Volta Redonda passou de R$ 145.173.881,42 em 2020 para R$ 190.984.010,15 em 2021. Ou seja, cerca de R$ 46 milhões a mais para a Educação no município”, destaca a direção da entidade à Folha do Aço.

Ainda segundo os representantes da categoria, “os baixos salários e a não aplicação do plano de carreira dos educadores da rede municipal fizeram com que o município não atingisse o percentual mínimo de 70% para valorização dos profissionais. O resultado disso foi uma grande sobra de recursos, que a PMVR teve que distribuir aos profissionais de educação na forma de abono. Ou seja, o governo municipal deixa de valorizar os profissionais com salário e plano de carreira, que contariam para aposentadoria, para dar abonos, de forma precária, que os profissionais perdem quando se aposentam”.

Para o Sepe, a estratégia da prefeitura em conceder abonos, como ocorrido no final do ano passado, de R$ 3 mil bruto por matrícula, não contempla a valorização real dos profissionais.

“A estratégia da prefeitura tem sido ‘dividir para dominar’. Dessa forma, oprimindo a categoria e negando nossos direitos, o prefeito Neto segue dando penduricalhos, gratificações e abonos. Todas essas escolhas possuem o impacto que a elite deseja: uma educação de baixa qualidade aos filhos e filhas da classe trabalhadora. Enfim, prefeito, os recursos do governo federal já estão sendo enviados e se chama Fundeb”, finalizou a entidade.

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