Nesta semana, a secretaria municipal de Saúde de Volta Redonda anunciou uma inovação tecnológica que promete transformar o atendimento médico na cidade. A introdução da ferramenta de Inteligência Artificial (IA) no diagnóstico de exames, como Raio-X, visa otimizar a precisão e a agilidade dos laudos, promovendo um atendimento mais rápido e eficiente para a população, especialmente para os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), frequentemente alvo de reclamações na cidade devido a longos tempos de espera e diagnósticos imprecisos.
Segundo a pasta, a ferramenta, desenvolvida pela startup HarpiaAI, não substitui os médicos, mas tem como objetivo auxiliar os profissionais de saúde a tomarem decisões mais assertivas. Com o uso da IA, os exames continuarão sendo avaliados e assinados por médicos, mas a tecnologia será responsável por identificar possíveis lesões difíceis de detectar a olho nu, o que ajuda a reduzir o tempo de diagnóstico e, consequentemente, aumenta as chances de tratamento e cura. Além disso, a ferramenta promete otimizar os custos ao proporcionar diagnósticos mais rápidos e precisos.
Para entender melhor o impacto dessa tecnologia no sistema de saúde de Volta Redonda e garantir que a IA não comprometa a qualidade dos diagnósticos, a Folha do Aço entrevistou Yuri Salles, do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj). Em sua análise, o conselheiro destacou os benefícios e os cuidados necessários para a implementação dessas ferramentas.
Salles foi enfático ao afirmar que a IA pode, sim, melhorar a precisão dos diagnósticos sem comprometer a qualidade da avaliação médica. “A inteligência artificial na análise de exames complementares não é uma tecnologia nova. Já existe há anos e vem sendo utilizada de maneira progressiva. Ela não substitui o médico, mas o auxilia, oferecendo uma análise mais precisa e eficiente dos exames, o que pode reduzir o risco de erros e tornar o diagnóstico mais ágil”, disse.
Segundo o conselheiro, o uso dessa tecnologia já é comum em diversos países e serviços, mas a segurança e a eficácia dependem da validação prévia da ferramenta, como no caso da startup contratada pela prefeitura de Volta Redonda. “Essa tecnologia tem que ser devidamente testada e validada por especialistas antes de ser colocada em prática. O município tem a responsabilidade de garantir que a ferramenta que estão contratando seja eficiente e adequada para o trabalho dos médicos”, completou.
A segurança no uso da IA para detectar lesões em exames, como Raio-X, é uma preocupação constante. A tecnologia é projetada para auxiliar na análise das imagens, mas a responsabilidade final sobre o diagnóstico permanece com o médico. Yuri Salles explicou que o sistema de IA pode sinalizar áreas suspeitas nas imagens, mas o médico é quem fará a análise final para confirmar ou descartar as possíveis lesões.
“Embora a IA seja uma ferramenta poderosa, ela não está livre de falhas. Pode ocorrer de a tecnologia detectar um falso positivo ou falso negativo devido a problemas na qualidade das imagens ou falhas no processo de captura. No entanto, o médico, com seu conhecimento e experiência, tem a responsabilidade de revisar o laudo, validar a informação e garantir a precisão do diagnóstico”, explicou.
Outro ponto destacado por Yuri Salles é a necessidade de treinamento adequado dos médicos para utilizarem corretamente a ferramenta de IA, sem perderem a autonomia e o julgamento clínico. “É fundamental que os médicos recebam treinamento específico para usar a tecnologia. Eles precisam entender os limites e as capacidades da IA, e como integrar essa ferramenta ao seu processo de análise. A IA nunca deve substituir a análise médica, mas deve ser um auxílio para aprimorar o trabalho do profissional”, afirmou.
O conselheiro do Cremerj também abordou a responsabilidade do médico em casos de erro no diagnóstico gerado pela IA. Para Yuri, a responsabilidade sempre será do médico que assina o laudo, independentemente de qualquer tecnologia utilizada.
“A responsabilidade médica é pessoal e intransferível. O médico é quem vai assinar o laudo e será o responsável pela interpretação do exame, mesmo que a IA tenha fornecido uma sugestão de diagnóstico. A IA deve ser vista como uma ferramenta de apoio, assim como qualquer outro dispositivo de auxílio diagnóstico”, esclareceu.
“Embora a IA seja uma ferramenta útil, nunca podemos esquecer que a prática médica envolve uma avaliação humana, que leva em consideração o contexto do paciente, suas condições clínicas e o exame físico. Não podemos delegar totalmente a responsabilidade das decisões clínicas para uma máquina. O julgamento ético e profissional sempre será do médico”, completou Yuri Salles.
No fim das contas, a utilização de Inteligência Artificial na saúde pública em Volta Redonda é um passo importante para modernizar e aprimorar os serviços de saúde pública. A cidade, que já enfrenta desafios em sua rede pública de saúde, agora aposta na inovação para avançar no atendimento à população, principalmente no SUS.