Segue o descompasso…
O futebol brasileiro não cabe num texto ou numa crônica apenas. O hiato entre o que se diz e o que se pratica, a megalomania contraposta à pobreza intelectual e financeira e o abismo da falta de planejamento, são questões que se comparam às variações táticas de Pepe Guardiola, só que no nosso caso, variações ou tentativas frustrantes que afundam nosso futebol num atoleiro agonizante.
Uma das agonias que vivemos diz respeito a clubes falidos que dependem de direitos cedidos para arrecadar e montar uma equipe minimamente competitiva a cada temporada. Para êxito, contratam técnicos da nova geração. Só que técnicos da nova geração trabalham com o longo prazo, são bem formados e recebem insumo humano que, na grande maioria, são cognitivamente incapazes de acompanhar o raciocínio do comandante.
Qual o resultado disso? Técnicos da nova geração são trocados por profissionais da velha guarda, conhecidos como “resultadistas”, pois o clube precisa triunfar para atender aos anseios do cartola de plantão e gerar riqueza para a próxima temporada, haja vista a falta de previsão e provisão financeira. É a eterna cena do cachorro atrás do rabo. Me arrisco a dizer que enquanto durar isso, os novos técnicos, como bem formados que são, deveriam procurar trabalhar como auxiliares em clubes europeus, onde teriam saciadas suas chances de carreira e sucesso.
Voltem somente quando os clubes no Brasil se tornarem verdadeiras empresas, coisa que depende da legislação e que não mudará tão cedo, já que a famigerada CBF encampa agora uma tentativa de “Fair Play Financeiro”, no lugar de representar os clubes no congresso apresentando propostas decentes que mudem o estado decadente de nosso futebol.
Então, o que temos? Clubes que falam em planejamento, mas não possuem as ferramentas estatutárias, humanas e econômicas para tal. Vivem o “hiato do produto futebolístico”. Perdoem o neologismo, mas é isso mesmo, nunca alcançaremos o nosso potencial, já que futebol é muito mais do que talentos individuais, coisa que temos com fartura, haja vista a quantidade de jogadores brasileiros espalhados pelo globo. Essa é a ponta do iceberg do estado de coisas que precisam ser pensadas e melhoradas. Como eu disse no início, nossas questões não cabem num único texto.
* Renato Barozzi Cassimiro é funcionário da Caixa Econômica Federal e ex-jogador das categorias de base do Flamengo