A direção da Unimed de Volta Redonda caminhou na contramão do que vem pregando nas últimas semanas as autoridades de Saúde de todo o país. Os médicos cooperados do plano de saúde foram convocados para uma assembleia na última segunda-feira (dia 16). A pauta: prestação de contas e divisão de sobras.
A decisão do presidente Luiz Paulo Tostes, acatada pela diretoria, chegou a ser questionada por um grupo de médicos, que alertou dos riscos de aglomeração de pessoas em face da propagação acentuada do novo coronavírus.
Os apelos dos cooperados em conversas nos grupos de WhatsApp não foram suficientes para adiar a assembleia. Um vídeo chegou a ser divulgado pelo presidente da Unimed confirmando o local da realização.
“Discutimos aqui, vamos manter a assembleia. Não vemos riscos. Os riscos são baixos”, disse na oportunidade Luiz Paulo Tostes, que na gravação aparece acompanhado de seu vice-presidente, Vitório Moscon Puntel, da diretora Elaine de Fátima Nogueira e da médica infectologista Keila Barros.
Keila, aliás, foi a segunda pessoa a falar no vídeo. “Atualmente a gente não tem casos notificados no município de Volta Redonda. A gente só teve um caso notificado, mesmo assim da paciente de Barra Mansa. Então assim, a princípio, a gente não tem identificação de circulação viral desse risco estabelecido aqui na região. Então não indicaria a suspensão imediata da assembleia, né, com o intuito de fazer a proteção”, analisou a especialista.
Keila, no entanto, sugeriu que fosse disponibilizados álcool em gel e máscaras para quem se sentir mais à vontade com o uso delas. A infectologista também chegou a dizer que o mais sensato era se tivesse alguém com problema respiratório, que evitasse estar presente em local fechado. “Mas as pessoas assintomáticas não têm porque não estarem, neste momento, ainda, frequentando esses locais, diante da baixa intensidade de contaminação na região”, explicou.
Em partes, a pressão do grupo de cooperados surtiu resultado. O encontro que, a princípio, estava marcado para o Teatro Gacemss, na Vila Santa Cecília, foi transferido para o auditório do próprio Hospital da Unimed, no bairro Jardim Belvedere. Detalhe: nos dois casos os médicos estariam colocando em risco a saúde, afinal, tratam de locais fechados.
A Folha do Aço apurou que somente um terço dos associados compareceu. Segundo informações que constam no site da Unimed, são cerca de 450 cooperados, no total.
Resultado
O clima de intranquilidade entre os profissionais da Unimed-VR ganhou um novo ingrediente. Presente na assembleia da última segunda-feira, o vice-presidente da cooperativa Vitório Moscon Puntel testou positivo para o novo coronavírus. O resultado do exame do médico cirurgião geral e torácico foi confirmado no sábado (dia 21) e incluído imediatamente na lista da secretaria de Saúde de Volta Redonda.
Em novo vídeo, divulgado na quarta-feira (dia 19), o presidente da Unimed-VR, Luiz Paulo Tostes, já havia comentando sobre a situação clínica de seu vice-presidente. “O Vitório Moscon não está aqui presente. Estamos eu e a Elaine [médica e diretora da cooperativa], porque o Vitório apareceu com um quadro gripal, e está seguindo recomendação de ficar em casa. Mas ele está bem, neste momento”, justificou.
Existe ainda a suspeita de que um anestesista da Unimed também estaria infectado. Ele passou por exame neste domingo e o resultado será divulgado nos próximos dias. Centenas de profissionais que trabalham no Hospital da Unimed e pacientes que tiveram contato com o Vitório Moscon Puntel figuram no grupo de risco de terem sido infectados pelo Covid-19. O clima é de total apreensão na unidade.
Medidas
No mesmo dia em que aconteceu a assembleia com os cooperados, a Unimed-VR publicou comunicado interno relatando que implantou, desde o início de fevereiro, ações para o enfrentamento do coronavírus. A cooperativa criou fluxos específicos para atendimento. Um Comitê Institucional também foi criado para acompanhar a evolução dos casos.
Em outro comunicado aos cooperados, o plano relatou que foi informado pela secretaria de Saúde de Volta Redonda que a coleta do Swab de Rayon, material necessário para o exame do coronavírus, seria destinado apenas a pacientes com sintomas respiratórios graves e internados.
“Neste momento, por tempo indeterminado, não teremos condições de realizar o exame para diagnóstico da doença para pacientes fora desse critério”, pontuou a nota. A partir desta segunda-feira (dia 23), a Unimed-VR suspende, temporariamente, cirurgias eletivas (aquelas programaras previamente) que não envolvam risco direto aos pacientes.
“Estão sendo priorizados, neste momento, atendimentos e procedimentos de urgência, emergência, cirurgias cardíacas, oncológicas e partos”, lista o comunicado distribuído na quarta-feira (dia 18).
Nota da redação: A reportagem da Folha do Aço entrou em contato com a assessoria de comunicação da Unimed-VR para que a cooperativa de plano de saúde se posiciona-se sobre os fatos. Até o momento não obteve resposta. A matéria será atualizada assim que tiver retorno.