Às vésperas de duas datas estratégicas para o comércio – o Dia dos Namorados, em junho, e o Dia dos Pais, em agosto – a Prefeitura de Volta Redonda autorizou o início das obras de reforma e ampliação do Mercado Popular da Vila Santa Cecília, por meio da Ordem de Serviço nº 11/2025, assinada neste mês. O contrato prevê a conclusão dos serviços em quatro meses, ou seja, até o final de setembro, caso não haja atrasos.
O projeto contempla a substituição das telhas de policarbonato da cobertura do prédio principal, instalação de exaustores e troca de telhas e calhas na praça de alimentação, além da limpeza da cobertura, com o objetivo de melhorar a ventilação e solucionar os recorrentes vazamentos. As estruturas existentes deverão ser mantidas, passando por reparos, lixamento e pintura.
A parte elétrica também será completamente readequada, com substituição de eletrodutos, cabos, disjuntores, caixas, luminárias, lâmpadas, reatores e redimensionamento dos circuitos elétricos, conforme as normas técnicas da ABNT.
Espaço vital para o comércio popular
Com mais de 100 boxes comerciais ativos e uma praça de alimentação movimentada, o Mercado Popular da Vila é considerado um ponto de referência para o pequeno varejo de Volta Redonda. Localizado no centro comercial da cidade, o espaço atrai diariamente centenas de consumidores. Inaugurado há quase 25 anos, o mercado passou a acumular problemas estruturais nos últimos anos, que se agravaram durante o período chuvoso.
A promessa de reforma não é nova. Desde julho de 2021, o projeto de revitalização vem sendo discutido pela prefeitura, mas só em 30 de julho de 2024 – mais de três anos depois – foi realizada a licitação, na modalidade de menor preço global. De lá até a assinatura da ordem de serviço, quase 12 meses se passaram.
Valor abaixo do estimado e histórico de aditivos preocupam comerciantes
O valor total da obra foi inicialmente orçado em R$ 646.972,40, com base nas tabelas da Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro (Emop) e do Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil (Sinap-RJ), ambas atualizadas com data-base de março de 2024. A vencedora da licitação foi a Topfire Instalações Contra Incêndio, empresa sediada em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, que apresentou uma proposta no valor de R$ 485.229,36, cerca de 25% abaixo do estimado pela prefeitura.
Apesar da aparente economia, comerciantes ouvidos pela reportagem demonstram cautela diante da possibilidade de aditivos contratuais – uma prática recorrente nas obras municipais -, que podem inflar os custos finais e comprometer o cronograma prometido.
“A gente fica preocupado com o ritmo da obra. Já está começando tarde e pode atrasar. E se chegar no Dia das Crianças ou no Natal com obra em andamento, vai prejudicar muito as vendas”, afirmou um permissionário da praça de alimentação, que preferiu não se identificar.
Outro comerciante, que também preferiu não divulgar o nome, lembrou do histórico de obras que começam e demoram a ser entregues. “A gente já viu outras reformas na cidade pararem no meio ou ficarem enroladas. Não dá para confiar só no prazo do papel. Aqui todo mundo depende do movimento diário. Um tapume fora de hora pode derrubar o faturamento do mês”, relatou.
Falta de informações do governo aumenta a incerteza
Até o momento, o governo municipal, por meio do Palácio 17 de Julho, ainda não informou como será o funcionamento do Mercado Popular durante o período de obras. Não se sabe se os boxes permanecerão abertos, se haverá remanejamento provisório dos comerciantes ou se o espaço será parcialmente interditado. A falta de transparência reforça a apreensão entre os trabalhadores.
“A gente trabalha no escuro. Já começamos a receber perguntas dos clientes, e não temos respostas. Precisamos saber como será feito isso na prática”, disse uma vendedora de roupas.
Impacto inflacionário e planejamento
A demora entre a licitação e o início da obra também gerou críticas. Em um ano, o IPCA-15, que é a prévia da inflação oficial, acumulou alta de 5,40%. O custo dos materiais de construção e de mão de obra sofreu reajustes no período, o que levanta dúvidas sobre a viabilidade de se manter o valor licitado sem comprometer a qualidade dos serviços ou recorrer a alterações contratuais.
A Prefeitura, por sua vez, não explicou o motivo do atraso de quase um ano entre a licitação e a assinatura da ordem de serviço. Tampouco comentou se haverá reforço na fiscalização da obra para garantir o cumprimento do prazo de quatro meses.
Reformar o mercado da Vila só pode ser uma maneira dos gestores municipais de desviar verba em proveito próprio. Estive lá há poucos dias e encontrei o lugar em perfeita ordem e organização. O MP precisa entrar em ação urgentemente. Essa gentalha está roubando além dos limites.