Por Adelson Vidal Alves

No final do século XVIII, o antropólogo Johann Blumenbach publicou um tratado intitulado “Sobre a variedade natural do gênero humano”, onde defendeu a existência de cinco raças humanas: os americanos nativos, caucasianos, orientais, a raça malaia e os africanos. Ele admirava a beleza caucasiana, mas admitiu ser uma opinião pessoal, e jamais propôs qualquer teoria supremacista.

Foi no século XIX, contudo, que uma explosão de teorias raciais apareceu, impactando intelectuais na interpretação do desenvolvimento civilizatório dos povos. Neste século que apareceu a poligenia, ideia segundo o qual a humanidade teria origens distintas.

O determinismo poligenista forneceu elementos para classificações do comportamento humano baseadas em determinações biológicas. Caso de Cesare Lombroso, que tratava a criminalidade como um fenômeno hereditário, seria possível identificar um criminoso pelas características físicas. Samuel Morton, cientista da Escola Americana de Poligenia, publicou trabalhos fazendo comparações morais entre as populações dos Estados Unidos e do Egito, baseados unicamente no estudo dos crânios. Pensamento de dimensões trágicas foi o eugenismo.

O termo eugenia foi criado pelo britânico Francis Galton, que como naturalista apresentou trabalhos extraordinários em algumas áreas científicas. Galton acreditava ser possível o aperfeiçoamento da vida social com controle de hereditariedade. Sua teoria gerou proibições de casamentos inter-raciais e castrações de pobres e pessoas com doenças mentais. A eugenia serviu de apoio às maiores atrocidades promovidas em nome da ciência.

As teorias raciais do século XIX criaram povos “incivilizáveis”, grupos humanos destinados à inferioridade física e moral, graças à mistura das raças. Arthur de Gobineau, autor de “Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas”, era representante destas ideias. Ele dizia que “o resultado da mistura é sempre um dano”. O próprio Brasil foi alvo de ideias como essa, e os brasileiros tratados como um povo fadado ao fracasso graças a sua intensa miscigenação. As ideias raciais do século XIX estão há décadas desacreditas pela ciência. No entanto, há quem teime em combinar evolução histórica e genética.

O jornalista inglês Nicholas Wade publicou recentemente “Uma herança incômoda: Genes, Raça e História Humana”. Wade acredita na existência de raças humanas. Mais do que isso, afirma que os problemas de continentes inteiros estão ligados as suas bases biológicas. O autor argumenta, por exemplo, que para salvar a África não bastaria transportar instituições ocidentais, já que a “raça africana” não teria algumas características comportamentais necessárias ao progresso.

O prêmio Nobel James Watson fez reflexão semelhante, dizendo ser cético em relação ao futuro do continente africano, pois brancos e negros não têm o mesmo grau de inteligência. A ciência dos séculos XX e XXI matou a raça, mas não o racismo. Apesar de Watson e Wade, não é possível sustentar uma “ciência das raças”. Contudo, é triste saber que a discriminação racial segue matando, sustentada pela ignorância e a estupidez.

* Adelson Vidal Alves é historiador

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