Um projeto de lei que institui oficialmente o Dia de Zé Pelintra no calendário de Barra do Piraí, no Sul do Estado do Rio, abriu espaço para um intenso debate sobre intolerância religiosa no município. Na terça-feira (dia 17), o vereador Pedrinho ADL (Solidariedade), autor da proposta, registrou um boletim de ocorrência na 88ª Delegacia de Polícia contra o pastor Matheus Oliveira, líder da Comunidade Evangélica Atos, no bairro Matadouro.
O motivo foi a publicação de vídeos em que o pastor se manifesta contra o projeto, classificando Zé Pelintra como uma “potestade do mal” e convocando fiéis evangélicos a pressionarem a Câmara Municipal para barrar a proposta. O projeto, que reconhece oficialmente a Caminhada de Zé Pelintra, prevê a realização anual do evento no dia 7 de julho, mesma data em que a entidade é celebrada na cidade do Rio de Janeiro, onde já integra o calendário oficial.
“Não podemos aceitar esse tipo de manifestação que fere frontalmente a liberdade religiosa. Respeitar as crenças é um dever de todos, e isso está garantido na Constituição. O que vimos foi um claro caso de intolerância religiosa, afirmou o vereador.
Diante da repercussão, lideranças de religiões de matriz africana, representantes de movimentos culturais e defensores da liberdade religiosa se mobilizaram e lotaram a Câmara Municipal nesta terça-feira (17). Mais de 100 pessoas estiveram no plenário em um ato de apoio ao projeto de lei e em defesa da diversidade religiosa.
“A intolerância religiosa é crime. Não podemos mais aceitar esse tipo de ataque às nossas tradições, à nossa fé e à nossa cultura. A Caminhada de Zé Pelintra não é apenas um evento religioso, mas uma manifestação cultural, social e de resistência do nosso povo, afirmou Klaudio Ricardo, sacerdote de religião de matriz africana e um dos articuladores da mobilização.
O projeto de lei 191/2025 será votado em turno único na próxima terça-feira, dia 24 de junho. Nos bastidores, a expectativa é de que a proposta seja aprovada, apesar da pressão de setores religiosos contrários.
Raízes culturais e religiosas
Zé Pelintra é uma entidade cultuada especialmente nas religiões afro-brasileiras, como a Umbanda e o Catimbó. Conhecido como o “malandro protetor”, ele representa não só figuras da boemia, mas, sobretudo, a luta dos marginalizados, dos trabalhadores e dos mais pobres. Na capital fluminense, o dia 7 de julho já é oficialmente dedicado a ele desde 2022.
Para os praticantes, a Caminhada de Zé Pelintra simboliza a valorização da cultura popular, da resistência das religiões de matriz africana e da liberdade de culto.
Liberdade religiosa em debate
Advogados ouvidos pela Folha do Aço ressaltam que manifestações como as do pastor Matheus Oliveira podem configurar crime de intolerância religiosa, previsto na Lei nº 7.716/1989, que trata de crimes resultantes de preconceito por raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
Até o fechamento desta edição, o pastor não havia se manifestado publicamente. A Câmara Municipal de Barra do Piraí confirmou que mantém a votação do projeto para o dia 24 e que qualquer cidadão poderá acompanhar a sessão presencialmente ou por meio das redes sociais do Legislativo.
Barra do Piraí carece de inúmeras obras para melhorar a mobilidade urbana, reduzir abusos no trânsito, recuperar as vias públicas, melhorar o atendimento no SUS, controlar a criminalidade, acolhimento nas escolas etc, etc, enquanto isso….
Vereadores, população e lideranças religiosas debatendo lei para determinar dia de homenagem a santo. Para isso não é preciso de lei e nem ocupar a agenda da câmara. Acorda povo!